A Internet de Luz: Ensaio sobre o Romance Eumeswil de Ernst Jünger

Manuel Curado

Resumo


O presente capítulo procura mostrar como o escritor alemão Ernst Jünger (1895-1998) descreve uma curiosa antecipação da internet no seu romance Eumeswil, de 1977. A máquina luminar tem alguns traços da atual internet (memória vasta, visualização de documentos, etc.) mas aponta sobretudo para desenvolvimentos futuros (uma internet de todas as faculdades sensoriais humanas, sistemas para reconstrução de eventos passados, etc.). A junção de um sistema de memória com uma máquina do tempo feita por Jünger permite uma reflexão sobre a dimensão imaginária da atual rede mundial de computadores. O capítulo procura, pois, comparar o luminar com a internet e identificar a dimensão utópica desta última. Defende-se que a internet é hoje uma manifestação da utopia multissecular da conexão infinita de tudo com tudo. Dão-se vários exemplos setecentistas, oitocentistas e contemporâneos dessa utopia (da Nova Atlântida, de Francis Bacon, passando por Erewhon, de Samuel Butler, até à Summa Tecnologiae, de Stanislaw Lem). Propõe-se uma conjetura sobre o imaginário dos sistemas de conexão infinita, imaginário que reúne sistemas técnicos, como a rede mundial de computadores; utopias literárias, como Eumeswil; representações religiosas, como o Espírito Santo cristão; sistemas lógicos, como a mathesis universalis leibniziana; etc. Termina-se com a defesa de uma tese sobre a essência da cibercultura, vendo nela a categoria aristotélica da relação e o imaginário neoplatónico da conexão infinita.

Palavras-chave


Jünger, Ernst (1895-1998); Eumeswil (1977); luminar; utopia; internet (imaginário da)

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Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS)
Universidade do Minho