RESUMOS

 
Sessão Temática: 8. Media e Cultura
Autor:

Maria Teresa Silva Guerreiro Mendes

Instituição:

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias / Departamento de Ciências da Comunicação e da Informação.

Dados Curriculares:

Licenciatura em Comunicação Social na F.C.S.H./U.N.L. (1992) Mestrado em Ciências da Comunicação, na F.C.S.H./U.N.L., com tese intitulada «Ciência e experiência moderna», oriêntada pelo Prof. Dr. João Mário Grilo (1998). Assistente-estagiária no Departamento de Sociologia e Comunicação Social da Universidade da Beira Interior (1992-94). Membro do secretariado da Conferência Internacional ICTM97, organizada pelo C.E.C.L.. Membro fundador da SOPCOM Assistente na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias desde Fevereiro de 1997, na licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura. Lecciona as disciplinas de «Sociologia da comunicação»; «Teoria da imagem e da representação»; «História e Teoria da fotografia»; «Géneros cinematográficos». Secretária do mesmo curso desde Junho de 1997. Frequenta o curso de doutoramento da U.N.L. e prepara doutoramento com o Prof. Dr. José Bragança de Miranda.

Título:

O detective e o jogador ou a fotografia na era da sua digitalização

Resumo:
 

Na parede da sala da casa de meus pais existe uma fotografia de família com os meus avós, muito novos, as minhas tias e mãe ainda crianças. Essa fotografia em particular tem para todos nós um grande valor sentimental, mas faz parte, como tantas outras, de um culto da memória de um tempo passado, um «isto foi», uma promessa de imersão numa realidade, ali mesmo à beira do olhar. Qualquer coisa que nos permite simbolicamente iludir a morte. Sempre se contaram muitas histórias sobre essa fotografia - histórias sobre as cores dos vestidos (a fotografia é a preto e branco), que eram novos, onde foram comprados, quem deu as bolsas que seguram nas mãos; e rimo-nos, hoje, da ingenuidade dos meus avós que imaginaram que as manchas em volta da boca de uma tia minha não iam «aparecer» na fotografia. A ida ao fotógrafo foi vivida como «um grande dia», um dia de festa, com direito a tudo o que os dias de festa proporcionam, especialmente às crianças. Depois vim a saber que afinal o meu avô não esteve presente nessa sessão fotográfica, e que foi colocado «lá» através de montagem; e que as manchas, afinal, eram ainda mais nítidas, mas o fotógrafo procurou «disfarçá-las». De onde vem então, essa ideia da evidência fotográfica, essa crença na sua «naturalidade», na sua «objectividade»? Estas questões já não são novas, mas o carácter construído e codificado destas imagens tornou-se mais visível, mais aparente, com a entrada da fotografia na era da sua digitalização. Porque provocou esta nova forma de manipulação tanta indignação? Procuraremos examinar estas questões, para já, a partir do trabalho do fotógrafo-«digital» Pedro Meyer e das suas «documentary fictions» que procuram criar uma nova «verdade digital», a construção de «factos digitais». Isto parece-nos equivaler à falência do modelo detectivesco-referencial que norteou a prática e a compreensão do medium fotográfico, em direcção a um novo modelo, o do jogador, quer no sentido de Flusser, quer no sentido dos «jogos de linguagem» de Witggenstein. Uma das diferenças entre esses dois modelos é que enquanto o detective não se pensava enquanto um jogador, o jogador pode, se assim o decidir, ser um detective. Jogar esse jogo. E esse jogo pode não ter nada que ver com o «jogo da verdade». Assim como em filosofia se passou das questões da verdade do conhecimento para as questões da linguagem, também essa passou a ser a questão da fotografia. Ou como dizem Humbertus & Amelunxen, parafraseando Lyotard, «After photography comes photography, but it is altered by the after». Quanto à metodologia, estas pesquisas recebem contribuições de várias áreas das ciências sociais e humanas de forma que se adequam bem ao que os anglo-saxónicos chamam de «cultural studies».