Interculturalidades e consciência histórica: desafios atuais para a cidadania
12 de março de 2021 , plataforma ZOOM , 14:00 – 18:00
PROGRAMA
Abertura – Moisés de Lemos Martins – CECS
Memória cultural e consciência histórica: um domínio transdisciplinar? – Rosa Cabecinhas – CECS
Representações historiográficas, consciência histórica transnacional e redes simbólicas. Problemas atuais de definição e marcadores críticos – Francisco Azevedo Mendes – LAB2PT
Consciência histórica, narrativa e identidade – reflexos e diálogos – Marília Gago – Instituto de Educação da Universidade do Minho e CITCEM -Faculdade de Letras da Universidade do Porto
15:45 – 16:00 INTERVALO
Ensino da História e a construção da identidade nacional no período após a independência em Moçambique – Cassimo Jamal – Universidade Licungo, Quelimane
O enquadramento da História da África no sistema educativo angolano. Práticas e experiências – Jacob Lussento Cupata – Instituto Superior de Ciências da Educação do Cuanza Sul (ISCED/CS), da Universidade Katyavala Bwila (UKB), Angola
Memória cultural, identidades e educação: reflexões a partir de um estudo de receção com estudantes do ensino secundário – Isabel Macedo – CECS
As “fake news” na sala de aula: atualidade do método histórico – Alberto Sá – CECS
Moderadoras: Sheila Khan – CECS e Alice Balbé – CECS
Evento gratuito, com inscrição obrigatória até dia 10 de março pelo Formulário.
Organização:
Projeto Memórias, culturas e identidades: o passado e o presente das relações interculturais em Moçambique e Portugal, CECS – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade
Lab2PT – Laboratório de Paisagens, Património e Território
Seminário Permanente Comunicação e Diversidade
Programa Doutoral em Estudos Culturais
Confira o tema das intervenções:
Memória cultural e consciência histórica: um domínio transdisciplinar? – Rosa Cabecinhas
Nas últimas décadas houve uma proliferação de debates científicos e políticos em torno da “memória pública”, nomeadamente no que diz respeito às “políticas da memória”, às “políticas de identidade” e aos “direitos de memória”. No âmbito das ciências humanas e sociais, desenvolveu-se um léxico diverso, que oferece várias formas alternativas de compreender a memória e a sua interação com a cultura, os media e a sociedade. No entanto, as fronteiras disciplinares têm dificultado os esforços para desenvolver um léxico compreensivo que possa sustentar o tão necessário diálogo interdisciplinar sobre esta complexa temática. Nesta comunicação, a partir de uma revisitação da pesquisa anterior em representações sociais da história, iremos discutir alguns dos desafios com que nos confrontamos nesta área de estudo.
Representações historiográficas, consciência histórica transnacional e redes simbólicas. Problemas atuais de definição e marcadores críticos – Francisco Azevedo Mendes
A coexistência de vários contextos disciplinares a operar com a noção de consciência histórica produz níveis de turbulência conceptual e metodológica, cuja plasticidade importa sondar no que diz respeito à afinação dos instrumentos de análise. Pretende-se discutir de que forma os estudos comparativos sobre as representações subjacentes às historiografias nacionais interagem com os programas científicos, políticos e culturais, que trabalham as formas e os conteúdos da consciência histórica. Nesse sentido, avança-se com a hipótese de que as historiografias são sintomas de redes simbólicas de apropriação intercultural e transnacional do passado com regimes de temporalidade, lógicas de continuidade e de quebra e níveis de disseminação diferenciados e persistentes. Esta hipótese é aqui explorada através da identificação de marcadores críticos na teorização e na própria história da historiografia, suscetíveis de contribuir para uma discussão mais ampla sobre a sua utilidade científica e social.
Consciência histórica, narrativa e identidade – reflexos e diálogos – Marília Gago
Resumo: A narrativa histórica perspetivada como face material da consciência histórica forma e enforma a identidade. Pela narrativa é dado sentido e significado à vida em vários tempos e espaços. Na expressão e compreensão da realidade seja do passado, do presente ou dos horizontes de expectativa que se desenham, inscreve-se a orientação temporal do “eu” e do “nós” que ilumina dinamicamente as decisões da vida prática e os caminhos a trilhar. O modo como cada um, individual ou coletivo, constrói o seu modo de ver o mundo e de o compreender-explicar é revelador dos sentidos de identidade que se partilham, e que podem ser mais ou menos etnocentrados ou interperspetivados. A identidade expressa e construída narrativamente pode oscilar entre o foco no que nos distingue numa lógica de exclusivismo ou no que nos une numa lógica mais ampla de concepção do ser humano e da Humanidade.
Ensino da História e a construção da identidade nacional no período após a independência em Moçambique – Cassimo Jamal
Resumo: Este artigo faz análise da pertinência de inclusão da disciplina de História no Currículo de ensino em Moçambique pós independente. A análise visa compreender a sua contribuição para a construção da identidade nacional. Para o efeito, apresentam-se os sistemas educativos implantados desde 1975, passando pela implementação das Leis 4/83; 6/92, desaguando na revisão de 2004/8 dos Sistemas Nacionais de Educação. O estudo teve como base de orientação a pesquisa bibliográfica e documental. Constatou-se que a História nacional tem sido reescrita, modificada e elaborada em função dos contextos políticos vividos e das mudanças ocorridas ao longo deste período. Assim, desde 1975 à atualidade, a História tem vindo a cumprir papéis complexos e diferenciados, desde a fixação de valores e normas sociais, a construção da unidade nacional, à promoção de atitudes de solidariedade, tolerância e respeito pelas diferenças.
O enquadramento da História da África no sistema educativo angolano. Práticas e experiências – Jacob Lussento Cupata
Ao longo da sua afirmação como República de Angola, o país enfrentou várias vicissitudes, fruto do contexto histórico, marcado por um período de dominação colonial, pela guerra civil no período pós-independência, num contexto geopolítico internacional marcado pela guerra fria, e pelo processo de afirmação da democracia. Para responder aos desígnios de cada realidade histórica, foram traçadas políticas educativas que respondessem ao sistema político-económico, o que levou à implementação de reformas educativas e consequentemente à integração da disciplina de História nos diferentes planos curriculares, atendendo ao lugar que ocupa na formação da consciência histórica e social. Pretende-se analisar o enquadramento que a História da África foi tendo, na disciplina de História no Ensino Geral em Angola ao longo deste processo. Para o efeito, examinamos os diferentes programas de História do nível de ensino em referência.
Memória cultura, identidades e educação: reflexões a partir de um estudo de receção com estudantes do ensino secundário – Isabel Macedo
Analisar os processos migratórios e o seu impacto no quotidiano das pessoas tornou-se essencial para compreendermos a sociedade contemporânea. O sistema educativo, os média, o discurso político, entre outros agentes e instituições na sociedade, têm um papel central na difusão e reificação de determinadas imagens sobre as populações migrantes, influenciando valores, normas, ações e relações interculturais. Enquanto agentes de mudança social, o cinema e a escola podem assumir um papel ativo no processo de desconstrução crítica de visões sobre o ‘Outro’. De facto, as representações difundidas no período colonial parecem marcar as representações e as relações interculturais (pós)coloniais. As representações que associam a pessoa negra a papéis sociais subalternos, à pobreza, ao lugar dominado e ao exercício de funções não qualificadas, bem como à falta de escolaridade, estão presentes no discurso dos jovens participantes nesta investigação, evidenciando a importância das representações da história na (re)construção das identidades, normas e valores dos grupos sociais.
As “fake news” na sala de aula: atualidade do método histórico – Alberto Sá
O sentimento generalizado de desconfiança dos cidadãos perante as estruturas convencionais de poder e de informação trouxeram tempos confusos e contraditórios que afetam os valores universais da liberdade, da comunicação e da democracia. A suspeita e incerteza perante a veracidade da informação e a própria invasão de privacidade por ação da exposição excessiva aos dispositivos eletrónicos fragilizaram ainda mais a condição humana, o que torna os cidadãos presas fáceis para diferentes tipos de poder, conforme demonstrado com o recente escândalo “Facebook–Cambridge Analytica” (2018) ou mesmo as campanhas presidenciais na Rússia, EUA e Brasil. Num momento em que as notícias invadem os telemóveis provenientes de múltiplas fontes sem a devida referenciação, importa perguntar que papel cabe aos média e aos grupos de comunicação nesses processos? Muitos converteram os processos de verificação de factos (fact-checking) como um produto noticiável (Observador, Polígrafo SIC…). E que papel cabe à Escola? Estes casos especiais de jornalismo investigativo seguem no horizonte o método histórico, concretamente na crítica das fontes. O que propomos é refletir sobre o problema emergente da necessidade de comprovação dos factos e dos dados nos veículos de comunicação chamando-os à discussão no âmbito do ensino e aprendizagem da História, propondo exercitar o método histórico não tanto para investigar os eventos passados, mas antes para promover a atitude crítica perante a avalanche informativa e a presença responsável no ecossistema mediático. Parece-nos que a heurística, as críticas interna e externa, e a hermenêutica, quando trabalhadas no âmbito das tarefas escolares e atualizada perante os desafios sociais de hoje, podem contribuir para uma melhor relação com este fenómeno atual, promovendo a qualidade da informação pública e examinando as atividades dos gigantes da Internet.
Notas biográficas:
Alberto Sá: Professor Auxiliar do Departamento de Ciências da Comunicação, onde é vice-diretor, e ensina nas áreas do audiovisual, do multimédia, e no design de comunicação e de publicação digitais. Licenciado em História e Ciências Sociais (Ensino) e com Mestrado em História Urbana Medieval, doutorou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, em 2012. É investigador do CECS (Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade) onde tem desenvolvido trabalho de investigação sobre os estudos da memória, em particular a mediação tecnológica da memória na era digital. É membro da equipa de investigação do projeto AUDIRE (Audio Repositório: guardar memórias sonoras) e integra o projeto Moda (“Monitoring Online Discourse Activity”). Foi co-líder do Working Group 2 do projeto e-COST Action IS1205 (“Social psychological dynamics of historical representations in the enlarged European Union”). É coordenador de evento científico-cultural CURTAS CC (Mostra de trabalhos de Audiovisual e Multimédia dos alunos de licenciatura e mestrado de Ciências da Comunicação – Universidade do Minho). Participa, atualmente, num estudo coletivo sobre o colonialismo e as lutas de libertação presentes nos manuais de história de Moçambique, sob uma perspetiva diacrónica.
Cassimo Manuel Jamal – Natural da Zambézia, Moçambique, licenciado em Ensino de História e Geografia pela Universidade Pedagógica – Maputo, em 2005; mestre em Educação/Ensino de História pela mesma Universidade em 2010; doutorado em Estudos Culturais pela Universidade do Minho em 2019. Docente de História de África na Universidade Pedagógica em Quelimane, desde 2005, tendo sido transformada atualmente para Universidade Licungo. Tem como áreas de investigação “Manuais escolares e ensino, Saberes e culturas locais; Identidades e representações sociais e pós-colonialismo”.
Francisco Mendes: Professor de Teoria da História no Departamento de História do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. Investigador do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT). Integra, atualmente, um projeto internacional de reforma curricular do Ensino Básico da Guiné-Bissau (RECEB), numa parceria entre o Instituto Nacional para o Desenvolvimento da Educação da Guiné-Bissau (INDE) e a Universidade do Minho. Coordenou recentemente dois números temáticos: Silva, M.C., Khan, S., Mendes, F.A., coord. (2016). «Sociedade, autoridade e pós-memórias». Configurações, 17; Soares, F., Mendes, F. A., coord. (2020). «História dos conceitos e história intelectual: conexões teórico-metodológicas». História. Debates e tendências, v. 1 n. 20. Contactos: fmendes@ics.uminho.pt.
Isabel Macedo é doutorada em Estudos Culturais pela Universidade do Minho e Universidade de Aveiro, na área da Comunicação e Cultura. A sua tese de doutoramento intitula-se “Migrações, memória cultural e representações identitárias: a literacia fílmica na promoção do diálogo intercultural”. É investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade e integra várias associações nacionais e internacionais na área da comunicação, da educação e da cultura visual. Co-editou a revista Comunicação e Sociedade, 34, dedicada ao tema “Ciências da Comunicação e Estudos Lusófonos” e a Vista – Revista de Cultura Visual, 2, intitulada “Memória Cultural, Imagem, Arquivo”. Alguns dos seus principais trabalhos são: “Representations of Dictatorship in Portuguese Cinema” (2017), em co-autoria; “Interwoven migration narratives: identity and social representations in the Lusophone world” (2016), em co-autoria, e “Os jovens e o cinema português: a (des)colonização do imaginário?” (2016).
Jacob Lussento Cupata: Licenciado em Ciências da Educação na opção do Ensino da História pela Universidade Agostinho Neto, Mestre em Relações Interculturais pela Universidade Aberta de Lisboa, Docente Assistente no Instituto Superior de Ciências da Educação do Cuanza Sul (ISCED/CS) da Universidade Katyavala Bwila (UKB), leccionando as disciplinas de História de África, Praticas Pedagógicas e Antropologia Cultural. Está a desenvolver o projecto de pesquisa doutoral em Estudos Culturais, sob o tema “Representações sociais da História de África no sistema educativo angolano”.
Marília Gago: Professora de Metodologia do ensino de História e de Estágio Profissional no Mestrado de ensino da História do Departamento de Estudos Integrados de Literacia, Didática e Supervisão do Instituto de Educação da Universidade do Minho. Investigadora do Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória (CITCEM-Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Integra, atualmente, um projeto internacional de reforma curricular do Ensino Básico da Guiné-Bissau (RECEB), numa parceria entre o Instituto Nacional para o Desenvolvimento da Educação da Guiné-Bissau (INDE) e a Universidade do Minho. Doutoramento em Educação, Metodologia do ensino de História e Ciências Sociais e Mestrado e pós-doutoramento no âmbito do Projeto de Investigação Consciência Histórica: teoria e práticas II, financiado pela FCT. Contactos: mgago@ie.uminho.pt
Moisés de Lemos Martins: Professor Catedrático da Universidade do Minho, é Diretor do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho, que fundou em 2001. Doutorou-se em Ciências Sociais na Universidade de Ciências Humanas de Estrasburgo, em 1984. Ensina e investiga em semiótica social, sociologia da comunicação e da cultura, comunicação intercultural, estudos lusófonos. É Diretor da revista Comunicação e Sociedade e também da Revista Lusófona de Estudos Culturais. Foi Presidente da Sopcom, Confibercom e Lusocom. Entre a sua obra constam: Crise no Castelo da Cultura (2011); L’imaginaire des médias (com Michel Maffesoli, 2011), Portugal Ilustrado em Postais (com Madalena Oliveira, 2011); Caminhos nas Ciências Sociais (2010); Comunicação e Lusofonia (com Helena Sousa e Rosa Cabecinhas, 2006); A Linguagem, a Verdade e o Poder (2002); O Olho de Deus no Discurso Salazarista (1990).
Rosa Cabecinhas: Diretora do Programa Doutoral em Estudos Culturais na Universidade do Minho. É professora no Departamento de Ciências da Comunicação do Instituto de Ciências Sociais e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. Tem desenvolvido investigação de natureza interdisciplinar e integra várias associações nacionais e internacionais nas áreas da comunicação, psicologia, educação e estudos culturais. Os seus principais interesses de investigação conjugam as áreas da comunicação intercultural, memória social, representações sociais, identidades sociais, discriminação social e diversidade. Entre as suas obras, destacam-se os seguintes livros: “Preto e Branco: A naturalização da discriminação racial” (2017, 2a edição) e, em co-autoria “Comunicação Intercultural: Perspectivas, Dilemas e Desafios” (2017, 2a edição). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1491-3420
Alice Balbé: Investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) e do projeto Memories, cultures and identities: how the past weights on the present-day intercultural relations in Mozambique and Portugal? Doutorada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho. Pesquisa temas que incluem representações, lusofonia, comunicação ambiental em particular sobre as alterações climáticas e redes sociais digitais.
Sheila Khan: Socióloga, investigadora do Centro Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho. Doutorada em Estudos Étnicos e Culturais pela Universidade de Warwick, tem, no seu percurso académico, centrado a sua atenção nos estudos pós-coloniais, com especial enfoque nas relações entre Moçambique e Portugal, incluindo a questão dos imigrantes moçambicanos em Portugal. De entre os temas que tem trabalhado inclui-se a história e a literatura moçambicana e portuguesa contemporâneas, narrativas de vida e de identidade a partir do Sul global, autoridades de memória e de pós-memória. É de destacar os seus recentes livros, “Portugal a Lápis de Cor: A Sul de uma pós-colonialidade” (Almedina, 2015); “Visitas a João Paulo Borges Coelho: leituras, diálogos e futuros” (et al., 2017, Colibri); “Mozambique on the Move: Challenges and Reflections” (com Paula Meneses e Bjorn Bertelsen, Brill, 2018). Atualmente, investigadora doutorada do projeto financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, EXCHANGE e membro da equipa de investigação do projeto FCT/Aga Khan sobre as relações interculturais entre Moçambique e Portugal.