Arquivo mensal: Abril 2018
Comissão de Acompanhamento Externa em Portugal
No dia 9 de abril, os membros Comissão de Acompanhamento Externa (CAE) reuniram-se com os doutorandos e com a Comissão Diretiva.
A CAE é responsável pela supervisão e monitorização do desenvolvimento e atividade do Doutoramento. É formada pelo Professor Marcos Palacios (Faculdade de Comunicação, da Universidade Federal da Bahia, UFBA, e Professor Catedrático visitante na Universidade da Beira Interior – UBI), Professor Rémy Rieffel (Université de Paris II Panthéon-Assas e Institut Français de Presse) e Professor Peter Dahlgren (Professor Emérito da Lund University).
Na agenda da visita dos membros da CAE esteve uma reunião com os doutorandos das quatro edições do programa, que decorreu na Sala de Atos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho.
Após o momento formal da reunião, os participantes puderam estender o debate e partilha de reflexões sobre o funcionamento do programa durante as quatro últimas edições (em curso) durante um almoço-convívio.
As transformações culturais e o campo da cultura na era digital
“Is the digital revolution a cultural revolution?” foi o título da palestra que Rémy Rieffel, investigador da Universidade de Paris, apresentou no passado dia 9 de abril.
Rémy Rieffel problematizou os limites das transformações culturais que afetam a cultura na era digital. A apresentação retomou a visão de campo cultural, de Pierre Bourdieu, para refletir sobre as mudanças vividas nesta área com a disseminação sobretudo dos novos média, com as redes sociais. De um lado, Rieffel apresentou elementos defendidos por otimistas, entre eles Henry Jenkins, que consideram que a cultura da convergência amplia a participação. Por outro lado, o autor destacou a desconfiança de investigadores que enfatizam os aspetos negativos da era digital, especialmente o monitoramento que se cria sobre os indivíduos, restringindo a liberdade, nos moldes do que previu George Orwell na obra “1984”.
Rieffel identificou três mudanças principais no campo cultural ensejadas pelos novos média: uma mudança nas formas de visibilidade, que está diretamente associada a uma economia dos likes e das partilhas, evidenciando disputas pela popularidade, pela autoridade, pela reputação e pela predileção; o crescimento de uma cultura híbrida, que aproxima e até mistura diferentes dimensões culturais, estilos, como o erudito e o popular; e o crescimento de uma cultura participativa e colaborativa na produção cultural, o que se efetiva por exemplo pelo uso de licenças livres (Creative Commons).
Para o investigador as desigualdades de acesso e de participação no campo cultural não mudaram no ambiente digital. O que significa que as transformações se deram principalmente nas formas de produção e de difusão, mas não ocorreram nas relações de poder. E mesmo o impacto dessas mudanças não é homogêneo. Para o autor, é mais adequado falar de uma nova configuração cultural, mas não necessariamente numa revolução, pois este ainda é um trabalho em progresso.
Rieffel argumenta que a própria ideia de que tudo mudou com a revolução digital é uma ideologia. Afinal, estamos conectados como previu Marshall McLuhan, formando uma grande aldeia global, mas o comportamento do homem não mudou por causa das tecnologias.
A presença de Rémy Rieffel em Portugal resultou da sua visita à Universidade do Minho enquanto membro da Comissão de Acompanhamento Externa do programa doutoral em Estudos de Comunicação: Tecnologia, Cultura e Sociedade.