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Opiniões#17

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?

Reflectir, problematizar, questionar, analisar, estudar, ou seja, treinar e estimular o olhar crítico e reflexivo sobre o jornalismo, a profissão, as práticas jornalísticas, sobre os media na sociedade, o seu papel, a sua história e desafios, sobre o seu futuro. Mas simultaneamente permitir um olhar transversal porque tudo se cruza e o jornalismo não está isolado do resto dos saberes.

2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?

A formação académica deve ter em conta as necessidades do mercado mas não deve viver em função do mercado porque a formação em jornalismo não se esgota, nem deve, nas práticas jornalísticas, ie, no exercício da profissão. Seria demasiado redutor. A Universidade é um espaço de reflexão e de produção de saber que vai muito além da formação de profissionais. Acredito que a Universidade não deve estar ao serviço do mercado de trabalho, são duas realidades distintas com objectivos e funcionamentos diferentes. Mas, também não pode viver de costas voltadas para as necessidades e funcionamento do mercado e das novas tecnologias. A perfeição vive desse equilíbrio, difícil, e em permanente mutação. A relação entre o jornalismo e a academia não se tem modificado apesar das redacções, hoje em dia, serem maioritariamente formadas por profissionais com formação superior oriundos das universidades. Cabe a estas últimas gerações de jornalistas e aos académicos que antes eram jornalistas continuar a contribuir para a mudança de mentalidades e  ‘aliviar o peso da ‘teoria vs prática’.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do Jornalismo integrado no universo mais vasto da Comunicação)? Porquê?

Ambas. Não podemos apenas alicerçar-nos apenas numa única. O jornalismo enriquece-se com ambas. Um profissional não é aquele que domina a técnica, é aquele que sabe ‘ser jornalista’. Tal como não é aquele que domina todas as teorias mas que não consegue reconhecer a notícia nem comunicá-la. É importante uma boa formação teórica, ética e deontológica aliada à prática e ao uso das novas tecnologias. O fim deve ser o que nos orienta: um profissional completo que saiba lidar com o dia-a-dia, mas que também reflicta sobre como noticia, sobre a realidade que noticia, e o mundo que o envolve.

4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de Jornalismo/Comunicação) e a profissão, durante o período lectivo e na fase de estágio?

Os exemplos das redacções integradas em que os jornalistas e os estudantes de jornalismo se cruzam num mesmo espaço ou trabalham de forma integrada são uma experiência interessante e com algumas virtualidades. Uma delas é a da aproximação entre a academia e o mercado de trabalho em que ambos convergem para um mesmo espaço e dão contributos para a formação dos futuros profissionais. Todos aprendem: jornalistas, estudantes, professores, ie, o mercado de trabalho, os futuros profissionais e a academia. É também uma oportunidade para se derrubarem os muros do preconceito que dividem a prática e a teoria. O estágio é sobretudo um período de aprendizagem em que os estudantes têm a oportunidade de observar e de aplicar, praticar, o que foram aprendendo ao longo da sua formação, mas agora num ambiente real desde que devidamente orientados pelas partes envolvidas no estágio (universidades e empresas de órgãos de comunicação social) e desde que não se perca de vista que o estatuto de estagiário – alguém que não deixou de ser um estudante mas que ainda não é um profissional.

Ana Isabel Reis | UPorto

Experiências#7

Comum2_logo2015

O jornal dos alunos de Comunicação da UMinho

 

O ComUM é o jornal online dos alunos de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho.

Criado em 1995, com edição impressa, este formato alongou-se até 12 de dezembro de 2005, data da fundação do ComUM como plataforma online. O projeto obteve a designação “ComUM” através da fusão dos termos “comunicação” – em alusão à licenciatura – e “Universidade do Minho”, referindo-se à academia.

O ComUM assume-se como uma plataforma informativa e jornalística online, sustentada por publicações regulares dos alunos de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho. É constituído por cinco secções principais (Sociedade, Desporto, Cultura, Crítica e Multimédia), às quais se juntam as secções de Opinião, Editorial, Rubrica e, mais recentemente, a secção de Grande Reportagem, na qual se inserem trabalhos jornalísticos de fundo, realizados pelos alunos do curso.

Na sua base, o ComUM deseja assumir-se como um órgão de comunicação de referência regional que aposta na construção de informação diversificada e de qualidade, concedendo oportunidades práticas e reais aos alunos do curso de Ciências da Comunicação e possibilitando experiência jornalística e comunicacional aos futuros licenciados.

Ao longo do ano letivo, os estudantes de Comunicação dedicam-se a este projeto extracurricular, informando sobre o que se passa e o que é notícia na academia e na região do Minho e aproveitando publicações jornalísticas de relevância realizadas ao longo da aprendizagem no curso.

Mais informações em:

Site: www.comumonline.com
Facebook: www.facebook.com/comumonline
Twitter: https://twitter.com/ComUMonline
Contacto: comum.geral@gmail.com

Ricardo Castro | UMinho | estudante de Ciências da Comunicação e diretor do ComUM até novembro de 2015

Opiniões#16

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?

A formação académica parece uma condição muito conveniente, ou mesmo inteiramente necessária, para a preparação do jornalista e outras profissões no campo da comunicação. O mesmo se poderia dizer de outras profissões cuja formação específica especializada requer prévia ou simultânea formação fundamental, de natureza intelectual, científica, cultural, social e política do mais elevado grau, mediante, processos de aprendizagem e de aquisição longos, experimentados e fiáveis, como são de modo ímpar e em princípio os definidos e praticados pelas universidades. Dir-se-ia que a formação académica ou “superior” tenderia a tomar-se regra geral como preparação para o exercício competente de uma especialidade profissional de nível superior, quer de carácter científico, quer de carácter humano e social.

Esta evidência, em perspectiva geral e à luz de conceitos e princípios relevantes, desvanece-se quando temos de considerar mais distintamente, por um lado, as qualidades, as competências e os desempenhos requeridos do profissional de jornalismo (e especialidades de comunicação associadas), e, por outro, os conhecimentos, os métodos e os procedimentos de ordem científica, cultural e técnica, concebidos e aplicados nos programas de formação académica, particularmente na formação inicial em qualquer ramo científico. A criação de cursos universitários de jornalismo e de comunicação, ainda bem recente, confrontou-se com aquela dificuldade e incerteza. Mas o apelo e a convicção atingiram tal vigor que não só venceram as hesitações como motivaram um espectacular surto de tais cursos em modalidades tão variedades e em tão elevado número que inspiraram a irónica mas feliz expressão da “multiplicação dos cursos de comunicação e de jornalismo”. Foi o período dos começos de há cerca de quatro décadas… Vieram para ficar, em número mais reduzido, mas ganhando novas formas, até ao reconhecido desenvolvimento de hoje, com provas dadas, mas prosseguindo caminho.

O próprio acontecimento desta iniciativa de consulta insere-se num processo histórico de permanente renovação das funções e acções que Universidade e Jornalismo devem à Sociedade de que são parte. Este esforço contínuo de apreender o que se vai descobrindo como necessário à mais adequada formação académica para um pretendido desempenho da profissão de jornalista, tem sido adoptado pelos responsáveis académicos em estreita cooperação com dirigentes e profissionais do jornalismo e da comunicação, designadamente no caso especial da formação que é o estágio em meio institucional profissional. E com inegáveis resultados favoráveis.

 2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?

A análise do contexto social actual, em geral, e no respeitante à dimensão económica e ao mercado, em particular, tal como à recente e contínua revolução científica, tecnológica, social, política e global, diz respeito a todos os agentes sociais, e também, naturalmente, aos que têm a seu cargo dirigir, cuidar e assegurar continuamente as Instituições académicas e as Instituições de Jornalismo e de comunicação social. Mas a estas cabe prioritariamente concentrar-se naquilo que lhes é próprio. Assim, a formação académica de base, que compete à Universidade, diz essencialmente respeito ao saber científico, que não excluindo outros, não deverá de modo algum ser-lhes preterido, ou sequer por eles condicionado, no programa curricular sistematicamente concebido e progressivamente realizado, como percurso ou curso científico, qualquer que seja a disciplina, vertente, especialidade, que as Universidades e Instituições a elas associadas vão autorizando e assegurando.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do Jornalismo integrado no universo mais vasto da Comunicação)? Porquê?

O que foi expresso nas perguntas anteriores já responde implicitamente a esta. A aprendizagem das dimensões técnicas requeridas pelos desempenhos profissionais deve naturalmente ser contemplada e conseguida ao longo da formação académica, como dimensão complementar indispensável. Mas certamente a um nível de iniciação e sem prejuízo do processo de aprofundamento intelectual de teorias e métodos que conduzam à efectiva capacidade de pensamento próprio e sua adequada expressão.

 4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de Jornalismo/Comunicação) e a profissão, durante o período lectivo e na fase de estágio?

As relações entre a Universidade e o Jornalismo decorrem das suas respectivas natureza e função, distintas e autónomas, e solidariamente participantes na mesma sociedade, incluindo em dimensões de relevância e interesse comuns. É especialmente o caso da formação escolar e académica. É evidente, a um nível geral. Se, de algum modo, nada de humano é alheio à Universidade e ao Jornalismo e à Comunicação, a natureza e âmbito dos objectos e objectivos, dos modos e dos métodos, das missões e programas de acção, das Instituições e Organismos da esfera académica e da esfera do jornalismo são muito distintos e é nessa distinção que a sua desejável colaboração poderá encontrar formas de interesse e benefício mútuos. As dificuldades surgem ao nível das possibilidades, condições concretas e tantas vezes demasiado limitadas para conceber programas adequados e levá-los até à efectiva realização. A recente história do desenvolvimento dos cursos de comunicação e jornalismo oferece já experiências de grande valor para acertar passos que se tenham revelado aquém dos objectivos prosseguidos ou dos que progressivamente vão sendo reformulados. Como é próprio dos saberes e das ciências, bem como de outros projectos humanos.

Aníbal Alves | professor emérito UMinho | UCatólicaPortuguesa

Experiências #6

JornalismoPortoNet (JPN) – novas formas de fazer jornalismo

sala 2013

O JornalismoPortoNet (JPN) foi criado a 22 de Março de 2004, é o ciberjornal do curso de Ciências da Comunicação: jornalismo, assessoria, multimédia da Universidade do Porto. O JPN surge no âmbito das disciplinas práticas de Jornalismo e Multimédia e teve por base um conjunto de objetivos:

 

  1. aprofundar as competências teórico-práticas dos alunos, desenvolvidas ao longo do curso;
  2. proporcionar um local em que os estudantes possam iniciar as práticas jornalísticas e tomar contato com as rotinas produtivas;
  3. dar visibilidade aos trabalhos produzidos no curso de forma os estudantes constituírem um portfólio;
  4. proporcionar um lugar de estágio para os estudantes finalistas enquanto aguardam o estágio curricular num órgão de comunicação;
  5. ser um laboratório em que se experimentam e ensaiam novas formas de fazer jornalismo.

O JPN funciona todo o ano e tem uma estrutura semiprofissional: dois editores (antigos alunos) a tempo inteiro e com carteira profissional de jornalista; um editor multimédia que faz parte da equipa dos Laboratórios de Audiovisual; registo na ERC; os coordenadores de área são professores das UC laboratoriais, a maioria com carteira profissional.

No início do primeiro semestre o JPN acolhe estudantes que queiram colaborar extracurricularmente e são publicados os trabalhos produzidos no âmbito das aulas práticas. No segundo semestre o JPN acolhe os finalistas que obrigatoriamente cumprem ali um período do estágio curricular. Nessa altura, a redação é dividida em dois turnos e funciona como uma redacção profissional, com chefes de redacção e secretários de redacção.

Nos meses de estágio são convidados jornalistas profissionais para serem ‘Editores por um dia’ e que chefiam a redacção durante todo um dia. Alguns deles são antigos alunos que ali efectuaram o seu estágio e que regressam ‘a casa’ por um dia.

O JPN produz hardnews e também dossiês especiais que exigem uma maior planificação. Estes são dois exemplos, distintos. O primeiro é o ‘artigo-mãe’ do 10º aniversário do JPN. O segundo é a última grande reportagem produzida pelos estagiários do último ano lectivo.

JPN2014 10 anos de JPN
http://jpn.up.pt/2014/03/21/10-anos-jpn-uma-viagem-no-tempo-com-os-pioneiros/

A última memória de África
http://jpn.up.pt/2015/06/25/ultima-memoria-africa/

 

Ana Isabel Reis | UPorto | JornalismoPortoNet

Opiniões#15

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?

As universidades são um espaço de aprendizagem, de formação e de adopção de uma série de ferramentas necessárias ao desempenho de funções profissionais. No jornalismo como em qualquer outra profissão esta mesma formação é indispensável e, absolutamente, necessária ao ingresso na carreira. A formação académica de jornalismo é hoje, mais do que nunca uma formação em mutação, assim como a própria profissão. Um curso de jornalismo é uma escola, não apenas uma formação de cariz universitário e de conhecimentos avulsos em ciências sociais e humanas. Nos cursos de jornalismo há uma preocupação constante com o ensino de técnicas jornalísticas básicas para o exercício da profissão. Mas além disto pretende-se discutir, debater e pensar o jornalismo, e isto é absolutamente necessário ao exercício de uma profissão tão complexa e determinante numa sociedade democrática. Num curso inteiramente dedicado à área de jornalismo e comunicação, os alunos têm a possibilidade de desenvolver esta capacidade, num contexto onde se motiva a partilha, troca e debate de ideias sobre o jornalismo em si. Isso é certo.

2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?

Assumi-la, absorvê-la e transformá-la em capacidade para formar gente capaz de reagir, trabalhar e pensar nesse contexto. As mutações empresariais e tecnológicas têm efeitos determinantes na forma como se exerce hoje qualquer profissão. No campo da comunicação e do jornalismo há uma necessidade constante de atualizar os contextos de ensino aproximando o mundo académico do mundo profissional. Nesse sentido são os professores que têm obrigatoriamente de absorver os novos contextos, fazer as transformações necessárias e criar um ambiente que permita uma formação adaptada aos novos conceitos, no sentido de formar adequadamente aqueles que vão ser os mais recentes profissionais do mercado.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do jornalismo integrado no universo mais vasto da comunicação)? Porquê?

Um jornalista valoriza eventos, cria representações do mundo, propõe hierarquias, e age no contexto cívico e social. No contexto do estudo e prática da técnica jornalística, no sentido de dotar os estudantes das ferramentas necessárias ao exercício da sua profissão, é importante praticar isto mesmo, em laboratórios criados para esse fim. É determinante promover esta formação, e dotar os estudantes destas capacidades absolutamente necessárias ao quotidiano da profissão. Nos laboratórios experimenta-se, cria-se e propõem-se novas formas de informar. É imprescindível que os futuros jornalistas conheçam profundamente as técnicas para exercer jornalismo. Mas não menos importante é o conhecimento do mundo com o qual vão lidar. Os estudantes devem conhecer o campo em que trabalham. Precisam de conhecer a área das ciências sociais, e das disciplinas que a compõem. Não se pretende formar máquinas de fazer notícias, mas profissionais que sejam conhecedores da realidade contemporânea em que se inserem. Que não reajam só ao evento, mas conheçam o evento, e o saibam enquadrar na realidade que noticiam. Mais do que qualquer profissão o jornalista é um agente ativo na formação da opinião pública, e da cidadania. Nesse sentido, que sentido faria formar apenas para “dar notícias”.

O ato de exercer jornalismo exige um empenho que vai além da técnica. O jornalista lida com a vasta área social em que se insere, e a capacidade de análise é necessária e apenas possível num contexto de formação ampla e que inclua as ciências sociais e da comunicação de forma complexa.

4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de jornalismo) e a profissão, durante o período letivo e na fase de estágio?

A academia e os cursos de jornalismo pretendem formar gente capaz de atuar no contexto da realidade profissional. Os laboratórios, e oficinas de trabalho são por isso determinantes para a adopção e desenvolvimento de técnicas e aproximação ao mundo profissional para o qual estão a ser preparados. A teoria faz sentido quando aplicada no contexto real. É preciso experimentar, propor e experimentar. Na academia a irreverência, originalidade e novidade podem ter um espaço interessante na formação. Os laboratórios, ou oficinas, são por isso um espaço de exercício prático para aquele que vai ser o primeiro momento de contacto com a profissão propriamente dita. Mas, paralelamente, a proximidade entre formador e formando é essencial à superação de dificuldades, e reação ao novo contexto. Se o formador deve ser conhecedor do ambiente no qual o estudante vai estar, também deve ser o “treinador” que segue os “saltos” dados no contexto profissional. O professor tem de ser um elo entre as instituições no sentido de promover uma integração gradual no novo ambiente e compreensão dos contextos que ali se encontram.

Sónia Lamy | IPPortalegre

Experiências#5

ESEPJornal – um laboratório de experiências jornalísticas

ESEPJornalO ESEPJornal é um site jornalístico do curso de Jornalismo e Comunicação do Instituto Politécnico de Portalegre, criado em maio de 2002. Após 13 anos de existência, assume-se atualmente como uma plataforma transversal às várias unidades curriculares de jornalismo do curso, combinando vídeo, áudio, fotografia e texto, além de fazer uso de outras ferramentas online que caracterizam o ciberjornalismo. Com a criação do mestrado em Jornalismo, Comunicação e Cultura no IPP, há cinco anos, o ESEPJornal passou a integrar também alguns dos trabalhos realizados pelos mestrandos.

O ESEPJornal pretende recriar um ambiente de redação na sala de aula. A “redação” está dividida por secções temáticas (Ambiente, Local, Ensino, Sociedade, Cultura e Desporto) cada uma coordenada por um aluno. A coordenação final e revisão dos trabalhos está a cargo, como é natural, dos professores de jornalismo. Embora a realização de trabalhos jornalísticos não esteja vedada a qualquer área, são privilegiadas temáticas locais que os alunos possam realizar com a sua presença no terreno. Os conteúdos do ESEPJornal são partilhados nas redes sociais (Twitter e Facebook) e outras plataformas digitais (Podomatic, You Tube, AudioBoo e Slideshare).

Os temas que são alvo de cobertura noticiosa resultam da escolha individual dos próprios alunos, que propõem trabalhos aos docentes de jornalismo e os comunicam aos editores das respectivas secções em reuniões próprias para o efeito.

Como se trata de um site alimentado com os trabalhos práticos realizados pelos alunos nas Unidades Curriculares do curso, o ESEPJornal é atualizado regularmente durante as aulas contudo, fora dos períodos letivos, a publicação de conteúdos é muito reduzida.

O ESEPJornal pretende, assim, constituir-se como um espaço para a publicação de trabalhos jornalísticos realizados no curso seguindo um caminho de convergência de linguagens e motivando a experiência de elaboração dos vários géneros jornalísticos: notícia, reportagem, entrevista, entre outros.

Luís Bonixe e Sónia Lamy | IPPortalegre

Números#4

Cursos de Comunicação/Jornalismo
Critério de seleção: UC de Jornalismo

69HEm Portugal, a via académica de acesso ao jornalismo faz-se, preferencialmente, pela porta da comunicação. Vinte e cinco dos 27 cursos atualmente existentes afirmam essa via de acesso na sua denominação. Apenas dois, Universidade de Coimbra e Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa, escapam a essa tendência, optando pela afirmação da classificação mais focada – Jornalismo.

A seleção destes 27 cursos obedece a dois critérios. As licenciaturas em causa enunciam, nos objetivos, uma aproximação à profissão de jornalista e, em cada um dos 27 planos curriculares, são oferecidas unidades curriculares diretamente relacionadas com o jornalismo, nas suas diversas componentes – ação profissional, reflexão ou ambas. Nesta matéria há situações muito diversas, variando o número de UC de jornalismo entre 23 (num curso de Jornalismo) e a existência de apenas UC de opção.

Estes dados suscitam-nos algumas reflexões: será que, quando se fala de formação superior em jornalismo, devemos considerar um critério mínimo para a elaboração de um plano de estudos? Até que ponto é que um curso sem UC (obrigatórias) de jornalismo poderá caber no grupo dos projetos de ensino que formam futuros jornalistas?

A verdade é que um critério diferente do que adotámos antes faz variar as contas, de 29 para 27 cursos com formação em jornalismo. Parece-nos que estas são questões que devem integrar a agenda de um futuro (e necessário) debate.

Trabalhos#5

Jornalismo vs Propaganda: debater o jornalismo “especializado”

Três meses e meio depois de ter começado um trabalho de investigação sobre a TAP, a SIC fez um esforço para acrescentar informação ao debate sobre a situação da transportadora aérea portuguesa. Em dois trabalhos jornalísticos de investigação (aqui e aqui) foi apresentada a base da ruína da TAP; uma base que ultrapassa a espuma das acusações entre governo, administração e sindicato dos pilotos e que se fixa nas opções de gestão que conduziram a empresa à situação de fragilidade financeira em que hoje se encontra.

Este trabalho tentou alertar para o excesso de informação por filtrar, contaminada pelos profissionais de comunicação que, interna e externamente, prestam assessoria à administração da TAP. Nos primeiros dias de maio, na sequência da greve dos pilotos, a opinião pública foi intoxicada pela versão da empresa que, omitindo a crise de liquidez a que chegara, tentava colocar o ónus da situação na classe profissional que decretara a paragem de dez dias. O sindicato dos pilotos, sem estratégia de comunicação que amparasse a decisão de manter a greve, viu-se literalmente engolido pela versão única emitida pela TAP.

Para esta situação em muito contribuiram os jornalistas que acompanham o fluxo informativo diariamente emitido pela companhia aérea. Sem qualquer questionamento, sem que sobre a informação veiculada fosse exercida a necessária ação de verificação, esses jornalistas “especializados” contribuiram decisivamente para que a verdade da TAP se sobrepusesse à verdade dos números. Estas duas reportagens, feitas por um jornalista generalista, mas ancoradas no princípio metodológico da investigação jornalística, transportou para a opinião pública dados que a estratégia de comunicação da TAP conseguira, até à data, encobrir. Este exercício jornalístico tem alimentado em mim a dúvida sobre a cobertura de assuntos polémicos por jornalistas especialmente próximos do objeto. Julgo que o enquadramento da especialização jornalística é debate que a academia e o mundo profissional deveriam, rapidamente, promover.

Pedro Coelho | UNovaLisboa | SIC

Opiniões#14

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?

A minha experiência no jornalismo, no desempenho de actividades próprias de um jornalista, é manifestamente escassa. Ainda assim, não sinto qualquer dificuldade em identificar os momentos mais impressivos da minha breve passagem pela profissão. Cerca de dois anos e meio após a última notícia que escrevi, o que mais recordo são os constantes questionamentos que surgiram após cada trabalho, cada opção, e não um qualquer conteúdo em particular.

Depois de criada uma notícia, chegava invariavelmente o momento de teorizar um pouco, de avaliar o trabalho efectuado, de ponderar alternativas, futuras abordagens, de questionar regras e procedimentos implícitos, aqueles que são comungados apenas pelo hábito e tradição. Umas vezes fiquei satisfeito com o que fiz, outras com os ensinamentos originados pelas conversas com colegas e pelos meus próprios erros. Ora, estas ‘satisfações’ não surgiram por um qualquer domínio de uma dada técnica. Na sua origem estão momentos de reflexão, de maior ou menor qualidade e abrangência. E para a existência desses períodos em muito contribuiu o meu percurso académico.

Há quase dez anos li pela primeira vez uma frase que logo me intrigou, mas que só algum tempo depois, na universidade, fez verdadeiramente sentido. Ainda assim, fiquei com ela na memória desde início. Em As Intermitências da Morte, José Saramago escreveu “com as palavras todo o cuidado é pouco, mudam de opinião como as pessoas”. Ora, foi a frequência de uma licenciatura em Ciências da Comunicação que me consciencializou para a não transparência da comunicação, que me permitiu perceber um pouco melhor a citação referida. O que geramos não é inócuo, o que escolhemos nunca resulta em um sacrossanta objectividade, o que deixamos de fora continua a existir, por muito que os conteúdos não o retratem. Não existe uma qualquer bala mágica cuja cápsula incorpore tudo o que queremos dizer e que seja capaz de passar uma mensagem intocada e intocável aos outros e pelos outros. No fundo, a minha formação académica alertou-me para a comunicação enquanto sistema complexo, com muitas partes em interacção, o que destruiu a ilusão da transparência do que comunicamos. Acredito que só na existência desta capacitação pela formação académica (como aconteceu na que tive) se pode falar de uma “vantagem competitiva sustentável” do ensino universitário em Jornalismo/Comunicação, dentro das Ciências Sociais.

2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?

A formação jornalistas vive com paradoxo de ter de formar gente para um mercado de trabalho, mas gente que terá de ter ‘alma’ (ou parte dela) de profissional independente. Esta contradição não é da formação académica, é da profissão. Se se mantiver na academia, não havendo uma redução do ensino àquilo que o mercado de trabalho dita, já será um feito considerável, dado o contexto vivido.

Quanto às tecnologias, tendo em conta a velocidade com que mudam, parece-me simplesmente prudente não afunilar a formação. Assim sendo, acredito ser mais importante abrir horizontes do que apostar todas as fichas num único caminho.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do Jornalismo integrado no universo mais vasto da Comunicação)? Porquê?

Como avancei na primeira resposta, defendo uma formação universitária centrada numa componente eminentemente reflexiva, sem descurar a técnica, até porque esta pode e deve gerar reflexão (enquanto aluno não defendia esta ordem, dada a ânsia em avançar para o terreno, independentemente da preparação). A chave desta posição está no local onde decorre a formação: se é na universidade, parece-me redutor limitar a formação superior àquilo que cursos profissionais ou simples workshops já oferecem, ou seja, o ensino da técnica. Os grandes desafios que os jornalistas enfrentam não se prendem com a redacção do lead (ou de uma narrativa multimédia). São mais complexos, são frequentemente morais/éticos, implicando interrogações permanentes. Daí que uma formação para a reflexão seja crucial, pois facilita, em teoria, a existência e amplitude desta.

4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de Jornalismo/Comunicação) e a profissão, durante o período lectivo e na fase de estágio?

Nessas como noutras fases, a troca de experiências e opiniões constante parece-me ser um propósito saudável. Se a academia beneficia das questões levantadas pela prática do jornalismo, o jornalismo aplicado beneficia do tempo que a academia teve para reflectir. Tempo que muitas vezes não existe numa profissão muitas vezes obcecada pelas notícias de última hora. O período de estágio é, ainda assim, um momento especial, já que um formando da academia está numa redacção. Novamente, a troca de impressões regulares parece-me ser fundamental.

Pedro Moura | UMinho

Experiências#4

UALMedia – uma redação/laboratório de convergência digital

ualmediaO UALMedia (http://www.ualmedia.pt) é uma plataforma multimédia dos alunos de Ciências da Comunicação da Universidade Autónoma de Lisboa. A plataforma assume-se como um ambiente de newsroom nas vertentes de televisão, rádio e online que permite desenvolver competências de trabalho em redação de convergência multimédia. As áreas de publicidade e marketing são também asseguradas pelos estudantes.

O UALMedia tem cinco anos de existência e a sua equipa é composta por alunos voluntários (dos quais dois são alunos-editores) que diariamente alimentam o site com conteúdos diversos, com o apoio de um conjunto de docentes e profissionais da área. Numa reunião semanal é distribuída a agenda, que privilegia o trabalho de campo e o desenvolvimento de produtos de convergência. O breaking news é conjugado com a distribuição integrada nas redes sociais.

A aprendizagem e autonomia dos alunos é resultado de um trabalho de proximidade com os profissionais que dão apoio à plataforma, resultando num processo de trabalho contínuo e integrado. Os alunos passam por todas as secções e áreas técnicas da plataforma. A estrutura da redação estimula a aprendizagem prática em ambiente de trabalho real, possibilitando aos alunos adquirir experiência e rotinas profissionais.

O trabalho começa logo depois das aulas. E todos os dias, inclusive fora dos períodos letivos (o que inclui férias, Dia de Natal, Ano Novo, etc.), são publicados conteúdos no site e nas redes sociais. A edição é partilhada entre profissionais e alunos-editores. O trabalho é igual ao de uma redação “convencional”: do take da Lusa à conferência de imprensa, passando pela reportagem e a edição técnica (áudio, vídeo ou multimédia), a cobertura de eventos em quase tempo real ou em direto, e a atualização e gestão das redes sociais.

O UALMedia é essencialmente uma redação de convergência digital e um espaço de laboratório que, para além de funcionar como uma excelente ponte para o mercado de trabalho, dá também aos alunos a oportunidade de experimentar diferentes áreas da Comunicação e de criar o seu próprio portefólio. A integração na estrutura curricular dos cursos de Licenciatura em Ciências da Comunicação e Mestrado em Comunicação Aplicada é também uma aposta que permite que os estudantes produzam conteúdos noticiosos em diferentes registos e os distribuam na rede através desta plataforma.

Inês Amaral | UAutónomaLisboa | ISMiguel Torga