Arquivo mensal: Fevereiro 2015

Opiniões#3

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?
A formação académica em Jornalismo traz, no meu entender, o grande benefício de permitir um contacto aprofundado com os autores, obras e correntes fundamentais na área da comunicação. Sendo a vertente prática uma mais-valia para quem começa a exercer a profissão, não pode nem deve descurar-se a importância teórica da formação como alicerce de uma prática reflexiva, fundamentada e regida pelos valores fundamentais do jornalismo, designadamente ao nível ético e deontológico.

 2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?
Face ao atual impacto das novas tecnologias no exercício da profissão, creio que a formação académica deverá integrar, cada vez mais, a componente tecnológica na sua dinâmica. Deverá abarcá-la, analisá-la e sobretudo levar o aluno, futuro jornalista, a questionar-se sobre os alcances e desafios do mundo tecnológico na prática da comunicação.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do jornalismo integrado no universo mais vasto da comunicação)? Porquê?
Acredito que a formação será mais benéfica quanto mais técnica e reflexiva for. Se, por um lado, é essencial o estudo aprofundado dos autores e matrizes do jornalismo no universo da comunicação, por outro, o contacto com a técnica e prática profissional é uma mais-valia na entrada do mercado de trabalho. Nesse sentido, a complementaridade destas duas vertentes proporciona uma aprendizagem sólida e completa.

 4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de jornalismo) e a profissão, durante o período letivo e na fase de estágio?
Creio que a promoção do debate entre alunos e profissionais pode trazer uma nova roupagem ao jornalismo. Parece-me cada vez mais interessante esse intercâmbio de contributos e visões entre quem está na profissão e quem nela pretende estar. A ausência de diálogo e reflexão, que tantas vezes impera nas próprias redações, deve ser combatida entre os profissionais e promovida junto dos alunos. Nesse sentido, acredito que a interação entre a academia e as empresas só tem a ganhar. Os estágios finais são um exemplo, mas a promoção de colóquios, fóruns e colaborações durante o curso poderá ser igualmente benéfica para os futuros jornalistas.

Maria Miguel Cabo | UNovaLisboa | ULusófonaHT | jornalista SIC

Experiências#1

O Luís António Santos  recomenda que se descubra um pouco mais sobre um jornalista recentemente desaparecido, o responsável pela coluna ‘Media Equation’ no NYTimes, David Carr.

O espaço que criou na plataforma Medium, de apoio a uma disciplina de jornalismo na Boston University (Press Play), é um repositório muito claro de pistas sobre a sua personalidade, de indicadores sobre a sua postura face à profissão mas, sobretudo, de propostas para estudantes de jornalismo.

O David Carr era um brilhante homem cheio de falhas.
Escrevia texto cru e dizia que o jornalismo não podia viver só do estilo (há um excerto brilhante num documentário de 2011 que também se recomenda – Page One – em que Carr confronta, de forma bem enérgica, ‘jornalistas hipsters’).

Este excerto é bem testemunho de tudo isto:
“Your professor is a terrible singer and a decent dancer. He is a movie crier but stone-faced in real life. He never laughs even when he is actually amused. He hates suck-ups, people who treat waitresses and cab drivers poorly and anybody who thinks diversity is just an academic conceit. He is a big sucker for the hard worker and is rarely dazzled by brilliance. He has little patience for people who pretend to ask questions when all they really want to do is make a speech.
He has a lot of ideas about a lot of things, some of which are good. We will figure out which is which together. He likes being challenged. He is an idiosyncratic speaker, often beginning in the middle of a story, and is used to being told that people have no idea what he is talking about. It’s fine to be one of those people. In Press Play, he will strive to be a lucid, linear communicator.
Your professor is fair, fundamentally friendly, a little odd, but not very mysterious. If you want to know where you stand, just ask.”

 Luís António Santos | UMinho

Opiniões#2

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?
Uma formação académica em Jornalismo ou Comunicação revela-se fulcral no exercício da profissão de jornalista. A meu ver, transmite-nos conhecimentos globais e básicos da comunicação que de outra forma não iríamos obter. É claro que existem diversas pessoas a exercer a profissão sem formação directa na área, mas continuo a achar que é de extrema importância frequentar formação académica adequada de forma a obter conhecimentos mais teóricos que se encontram na base das Ciências da Comunicação.

2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?
Apesar de concordar que os conhecimentos teóricos são de extrema importância para exercer o profissão de jornalista, considero que neste momento a oferta académica em Portugal se foca demasiado na teoria e menos na prática, ou seja, nós, alunos, somos preparados para ser teóricos e pouco preparados “para ir para a rua fazer jornalismo”. Hoje em dia e com os avanços tecnológicos, considero que a educação em jornalismo está pouco preparada e as universidades dispõem de poucos recursos tecnológicos.
A meu ver, os alunos não são preparados para o mercado de trabalho. Essa preparação só existe durante os estágios e nem todos os cursos dispõem dessa opção.

 3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do jornalismo integrado no universo mais vasto da comunicação)? Porquê?
Na minha opinião, a formação deve fazer uma conjugação equilibrada entre uma componente técnica e uma componente reflexiva. Uma não pode, ou não deverá, existir sem a outra. Não existe teoria sem haver prática e vice-versa. Um aluno de comunicação deve terminar uma formação com conhecimentos teóricos e deve também dominar técnicas mais práticas e profissionais.

4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de jornalismo) e a profissão, durante o período letivo e na fase de estágio?
Como já disse, deve haver uma maior ligação de modo a preparar os alunos para o mercado de trabalho.
Durante o período lectivo, deve existir um maior contacto com redacções e entidades empregadoras e durante o estágio deverá existir um orientador ou alguém com quem se pode esclarecer dúvidas, tal como acontece actualmente.

Filipa Gaspar | UMinho | UNovaLisboa | estagiária SIC

Trabalhos#1

Esta é uma reportagem que foi emitida pela Aljazeera em 2014. Trata-se de um extraordinário trabalho de investigação que tenho discutido com os alunos, nas aulas de mestrado que leciono na UNL. No essencial, esta reportagem, Haiti in a Time of Cholera, aproxima-nos de três linhas complementares de interpretação. Primeira: a televisão deve ser uma plataforma de acolhimento da investigação jornalística e suscitar novas abordagens formais que a valorizem, promovendo a adesão dos telespectadores; segunda: a persistência e a resistência são características que devem mobilizar os jornalistas envolvidos e as organizações que suportam esses trabalhos; terceira: ultrapassar os constrangimentos provocados pelo mercado, acreditando que o investimento na credibilidade pode gerar receitas sociais e económicas em prazos mais dilatados.

O visionamento crítico deste trabalho prova-nos que a rentabilidade gerada pela exposição da credibilidade é a receita que coloca a Aljazeera no pedestal da informação televisiva a nível global.

Pedro Coelho | UNovaLisboa | SIC

 

Opiniões#1

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?
Não tenho uma resposta categórica para esta questão. Diria apenas que depende de que exercício da profissão de jornalista se trata e de que formação académica se trata. Há atividades jornalísticas para as quais é mais importante ter, por exemplo, uma formação jurídica, económica e há atividades jornalísticas para as quais nem será preciso qualquer formação académica, como por exemplo, a atividade dos jornalistas que se limitam a recortar e a colar despachos de agências noticiosas. É por isso que sempre defendi a autonomia dos cursos de comunicação em relação ao exercício de qualquer profissão. Muitas das atividades profissionais aprendem-se no terreno, nas empresas. As vantagens da formação académica qualquer que ela seja, em jornalismo, tal como em direito, em medicina, em engenharia ou em qualquer curso académico dependem daquilo que os diplomados nesses cursos fazem dela, das qualidades pessoais de cada um. É por isso normal que haja excelentes profissionais que não têm qualquer formação académica ou formação académica noutra área e excelentes académicos que seriam péssimos profissionais. Já Aristóteles distinguia claramente duas modalidades de inteligência, a que tem a ver com a episteme e a que tem a ver com a techné. Pode-se ter um excelente domínio da techné e não ter capacidade no domínio da episteme e vice-versa. É claro que o ideal seria ser competente nas duas esferas, mas nós sabemos que não somos seres ideais.

2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?
A formação académica não existe para dar resposta aos efeitos do mercado. Para isso existe a esfera da luta política dos cidadãos. A formação académica está a montante dessa esfera: tem por função formar cidadãos esclarecidos capazes de escolherem as suas lutas e de as levarem para a frente com determinação e solidariedade.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do jornalismo integrado no universo mais vasto da comunicação)? Porquê?
Depende dos objetivos que as pessoas têm para as suas vidas. Há certamente pessoas que procuram uma formação técnica e, nesse caso, podem encontrar a resposta aos seus objetivos junto das empresas que melhor podem assegurar essa formação. Mas há pessoas que procuram uma formação que os habilite a pensar e a refletir e nesse caso creio que nas sociedades ocidentais é sobretudo à Universidade que compete responder a esse objetivo. O que a Universidade nunca poderá satisfazer são os objetivos meramente técnicos, porque não é esse a sua missão nem é essa a sua competência.

4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de jornalismo) e a profissão, durante o período letivo e na fase de estágio?
Deve haver uma ligação de mero enquadramento e colaboração. Seria desastroso que a Universidade dependesse dessa ligação e que passasse a definir o perfil da sua formação em função da demanda profissional, tal como seria desastroso que os objetivos empresariais das empresas jornalísticas dependessem dos objetivos universitários. No mundo moderno, qualquer confusão entre a esfera empresarial e o domínio académico é intolerável, porque não respeita a autonomia de cada uma das esferas. Isto não quer dizer que não haja uma colaboração clara e proveitosa, mas ela será tanto mais proveitosa quanto mais respeitadora da autonomia das duas esferas.

Adriano Duarte Rodrigues | professor e investigador UNovaLisboa