Opiniões#9

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?
No quadro de uma profissão exigente do ponto de vista social, cultural, político, económico, a formação em jornalismo assume especial preponderância também pela atual conjuntura do contexto mediático, profundamente influenciado pelas transformações impostas por um ecossistema digital e global. Do meu ponto de vista, a formação em Jornalismo e Comunicação permitirá obter um conjunto de saberes teóricos sobre o complexo papel da comunicação no mundo atual que, de outro modo, dificilmente se obterá. Se é verdade que o conhecimento prático de uma profissão se obtém nas próprias redações, por outro lado, a formação académica deve começar esse percurso, preparando os estudantes para o domínio prático das diversas linguagens do jornalismo.

2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?
Vejo aqui duas dimensões diferentes. Por um lado a questão do mercado, ao qual os modelos formativos devem estar atentos, mas não subjugados. Por outro lado, a questão das novas tecnologias que, num novo ecossistema mediático dominado pelas redes globais, são cada vez mais importantes para o campo jornalístico e, nessa medida, a formação académica deve dar uma resposta concreta nesse domínio, criando modelos formativos que possibilitem aos estudantes a obtenção de conhecimentos teóricos (uso crítico dessa tecnologia) e práticos (domínio e manuseamento dessas tecnologias).

 3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do jornalismo integrado no universo mais vasto da comunicação)? Porquê?
Pensar um modelo para a formação superior de jornalistas implica, a meu ver, a adopção de estratégias e práticas que enformem um quadro formativo no qual se combinem procedimentos que facultem aos estudantes, e futuros profissionais, um conhecimento do mundo, da comunidade bem como da comunicação e que ao mesmo tempo lhes faculte ferramentas práticas no sentido de os dotar de competências técnicas essenciais para o futuro exercício da profissão. Nesse sentido, é importante contemplar no modelo duas dimensões: uma crítica e analítica que preveja um quadro de conhecimentos e competências nos domínios das ciências sociais e das ciências da comunicação que contribuam para essa análise crítica e analítica do mundo e do papel da comunicação nesse mundo, gerando alicerces nos estudantes para a própria investigação científica neste domínio; e uma prática e profissionalizante que integre um quadro de competências mínimas de índole prática, que apontem para o saber-fazer e que respondam a um denominador comum de exigência nas redações. Falamos, assim, de uma perspetiva profissionalizante que integre atividades capazes de aproximar os estudantes à realidade que encontrarão no exercício da sua profissão. Num tal quadro formativo, considero fundamental a existência de estágios, projetos extra-curriculares de carácter laboratorial e de unidades curriculares predominantemente práticas.

4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de jornalismo) e a profissão, durante o período letivo e na fase de estágio?
Deverá haver uma ligação estreita de colaboração e de acompanhamento. A minha experiência pessoal é que o estágio constitui um momento muito valorizado pelos estudantes, na medida em que para muitos é o primeiro contato real com a profissão. Mas, por outro lado, algumas empresas sentem-se “perdidas” no sentido em desconhecem que estratégias devem adotar para esses mesmos estagiários, em alguns casos resultando num fraco acompanhamento dos estudantes. Do meu ponto de vista, será importante uma ligação mais próxima entre a academia e as empresas que promova um equilíbrio entre a atividade profissional numa redação e o momento particular de formação em que o estudante (ainda) se encontra.

Luís Bonixe | IPPortalegre

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