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Colóquio ‘O fluxo e a morte: dos média ao turismo’

Na próxima quinta-feira, dia 30 de abril, realiza-se o colóquio ‘O fluxo e a morte: dos média ao turismo’, na Sala de Atos do ICS, na Universidade do Minho, a partir das 14h30.

O encontro é uma atividade do projeto de investigação coletivo dedicado às figurações da morte nos média, desenvolvido entre a Universidade do Minho e a Universidade Federal de Minas Gerais.

Consulte aqui o programa.

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Disderi e o retrato dos mortos

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Esta fotografia dos fuzilados da Comuna de Paris, em 1871, com doze cadáveres vestidos e prostrados em caixões, é um célebre exemplo de figuração da morte. Supõe-se que Adolphe Eugéne Disderi, o inventor da carte de visite, que popularizou o retrato fotográfico e democratizou o seu acesso, foi o fixador deste instantâneo que, embora lúgubre, merece ser pensado no âmbito da nossa responsabilidade política diante das imagens da morte e das figurações da miséria que os média quotidianamente difundem. No seu livro Peuples Figurants, Peuples Figurants L’oeil de l’histoire, 4, que questiona precisamente a representação dos povos sob um ponto de vista político e estético, Georges Didi-Huberman dedica algumas páginas a esta imagem:

“Poderemos, claro, diante da célebre fotografia dos fuzilados de 1871, por exemplo , contentar-nos do macabro lugar comum – comum a tantas imagens históricas – e juntar os doze cadáveres   à vaga comunidade de mortos “vítimas da história” e à violência política. Mas podemos também refletir, diante desta imagem, sobre a comunidade particular destes comunistas assassinados. Podemos – devemos – interrogar-nos sobre o porquê e o como da sua escolha, da sua luta, da sua comum exposição à morte sob a objetiva de Adolphe-Eugène Disderi (ou um dos seus colaboradores). (…) É como se, diante da fotografia de fuzilados da Comuna, se tramasse um dom recíproco, do olhar e da imagem, esta última oferecendo ao primeiro um precioso fragmento de matéria histórica, o primeiro oferecendo à última uma preciosa legibilidade dos aspetos humanos captados pela câmara escura.” (Georges Didi-Huberman, 2012, p. 99).

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Acrescente-se que Disderi, que muito impulsionou a industrialização da fotografia através da sua invenção da carte de visite, um formato fotográfico mais pequeno e mais económico, já estava, ainda que noutro contexto, familiarizado com a captação da morte… Encontramos vários exemplares de fotografia postmortem com a marca do seu estúdio fotográfico. A fotografia postmortem era uma prática muito comum no séc. XIX, consistindo em fotografar os mortos vestidos e colocados em determinadas poses, muitas vezes acompanhados dos seus familiares. Disderi confessava a propósito desta prática fúnebre: “Da minha parte, tenho feito vários retratos depois do falecimento; mas fi-lo, confesso, não sem uma certa repugnância”. Das imagens com uma ímpar importância histórica como a dos fuzilados da Comuna de Paris a estas mais rituais e domésticas encenações da morte, é questionável qual a nossa responsabilidade política de espectadores, qual a postura que, em termos éticos, nos é exigível diante das diversas exposições da morte.

Didi-Huberman, G. (2012), Peuples exposés, peuples figurants. L’Oeil de l’histoire, 4. Paris: Les Éditions de Minuit.

Dubois, P. (1999). O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas: Papirus.

 

Chamada de artigos E-book Morte e Acontecimento Mediático

O prazo de envio dos textos relativos ao projeto O fluxo, a morte e o acontecimento mediático: Linguagens, Interações e Imaginário, destinados a uma publicação eletrónica, foi alargado até ao próximo dia 30 de março de 2015.

Serão privilegiadas mas não exclusivamente aceites as propostas resultantes de comunicações realizadas no âmbito do projeto científico, nomeadamente os eventos integrados no Seminário Internacional O Acontecimento Mediático (2012), no Colóquio O Fluxo e a Morte (2013), e no Colóquio Medialândia (2014).

Submissão através do endereço eletrónico: fluxomortemedia@gmail.com

Os artigos deverão respeitar as normas para apresentação de originais da revista Comunicação e Sociedade (http://revistacomsoc.pt/index.php/comsoc/about/editorialPolicies#custom-3)