Entre os dias 18 e 20 de novembro de 2014, Moisés de Lemos Martins esteve na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em Belo Horizonte, para ministrar o curso “Mídia e Cultura Contemporânea”.
O evento, que decorreu em três dias, começou por tratar questões como o estilhaçamento da cultura na contemporaneidade. Segundo Moisés Martins, a relação entre homem e máquina e a crescente importância da cibernética são alguns dos motivos que justificam este estilhaçamento. O professor e investigador da Universidade do Minho destacou, aqui, a relevância e o papel do controlo de informações e da vigilância. Sobre a questão do estilhaçamento da cultura, Moisés Martins afirmou, ainda, que a sociedade atual se caracteriza pelo uso de tecnologias de informação, em detrimento da comunicação, impossibilitando ou dificultando a relação com o outro.
No segundo dia, Moisés Martins dedicou-se à questão da passagem de um regime centrado no logos, ou na palavra, para um regime centrado no pathos, ou seja, nas emoções. Para o investigador, regista-se, portanto, “um deslocamento do consciente para o inconsciente”.
Seguindo a perspetiva de Moisés Martins, verifica-se, então, uma subversão ao nível do imaginário, sobrepondo-se o trágico (contradições sem ‘happy end’) ao dramático (contradições superadas por uma síntese redentora); o barroco (formas onde predominam as linhas curvas, as concavidades e as sombras) ao clássico (formas de linhas direitas e de superfícies transparentes); e o grotesco (dos valores invertidos e o rebaixados) ao sublime (dos valores superiores e universais).
Dedicado ao tema da imagem, o terceiro dia contou com a análise de elementos visuais, narrativas de videoclipes, publicidades e desfiles de moda. Cada um destes exemplos serviu de mote para que Moisés Martins discutisse as alterações que a sociedade contemporânea tem vivido e as produções imagéticas desta mesma sociedade.
Adriana Bravin, jornalista e doutoranda em Comunicação na UFMG refere que o minicurso ministrado pelo professor Moisés lhe permitiu “refletir sobre como os modos de organizar vida e pensamento, cultura e mídia, e especialmente a produção de imagens, são profundamente afetados, e mesmo deslocados, pela sociedade tecnológica”. Segundo Adriana, “trata-se de um regime contemporâneo do viver sob o prisma da comunicação generalizada, por meio das tecnologias da informação, do mercado global e da produção/circulação incessante de imagens”. Para Adriana Bravin, “compreende-se que imagens que dizem de uma certa melancolia, desesperança, instabilidade, visíveis em peças publicitárias, videoclipes e no mundo da moda, por exemplo, nos falam de um viver sob o prisma dos múltiplos agoras, do presentismo e da emoção”.
Cristian Góes, também jornalista e doutorando da UFMG, com uma tese que foca a produção jornalística de temas ligados a lusofonia nas últimas duas décadas no Brasil, reflete sobre os contributos deste seminário para a sua investigação: “Estou trabalhando com a ideia de trânsito identitário e o professor apresentou a conceção de travessia e penso que trânsito e travessia dialogam muito bem. Achei muito boa a forma como ele conduziu todo o curso de modo a apresentar essa travessia, isto é, do moderno ao pós-moderno, de um modelo informativo para um comunicacional baseado na fortíssima ideia de tecnologia e da imagem”, reforça Cristian Góes. Adicionalmente, Góes destacou as formulações sobre melancolia que, afirma, foram importantes para que desse um salto nos seus estudos sobre memória prospetiva no jornalismo.