Um encontro imprescindível
Por vezes, o processo produtivo de informação desenvolve-se com atores que seguem as suas estratégias, sem nunca conversarem uns com os outros. Por vários motivos: constrangimentos temporais, falta de oportunidade, desconhecimento de quem fornece e de quem (re)produz informação… É esta a normalidade de um quotidiano que, de quando em vez, urge interromper para introduzir aí espaços de reflexão sobre aquilo que é feito. Aproveitando o propósito de partilhar alguns dados do projeto “A Doença em Notícia”, quisemos, a 9 de novembro de 2012, promover, na Universidade do Minho, um encontro que juntasse na mesma sala investigadores, jornalistas e personalidades que todos os dias são, fazem ou promovem notícias sobre o campo da saúde. Tratou-se uma reunião que queremos ver replicada num futuro próximo.
Antes de ouvir fontes e jornalistas, o grupo de investigadoras responsável pelo projeto “A Doença em Notícia” apresentou os dados de um trabalho iniciado em 2008. As nossas conclusões, baseadas na análise de um corpus de 7675 artigos, apontam para uma abordagem da Saúde que é feito sob ângulos negativos em textos de tamanho médio que falam, sobretudo, de políticas de saúde ou de retratos de situação. Olhando para a geografia dos acontecimentos em notícia e das fontes citadas, salienta-se uma certa hegemonia de Lisboa: nos factos mediatizados e nas pessoas ouvidas pelos jornalistas. No entanto, também se repara que o lugar da redação é fundamental para ajudar a quebrar essa tendência. Veja-se o caso do Jornal de Notícias, com sede central no Porto, muito mais atento a realidades fora da capital.
No que diz respeito às fontes, elas apresentam-se de forma identificada, são sobretudo homens que falam à escala nacional e que ocupam cargos oficiais ou que exercem profissões especializadas em lugares de chefia. Em cada texto, o jornalista não cita muitas fontes. Grande parte deles cita apenas uma fonte, um dos dados que suscita alguma reflexão sobre a qualidade do jornalismo desenvolvido no campo da saúde.
Reservando uma parte importante da reunião para as percepções das fontes de informação e dos jornalistas em relação ao trabalho que desenvolvem e àquele que recebem da outra parte, cada um destes atores revelou ter formas específicas de trabalhar, nem sempre bem entendidas quando percepcionadas de fora. Por outro lado, fontes e jornalistas concordaram haver necessidade de uma maior formação na área da saúde (por parte dos jornalistas) e na área do jornalismo e da comunicação estratégica (por parte de quem promove a informação). Razões mais do que suficientes para continuarmos este trabalho.
Felisbela Lopes, investigadora responsável do projeto “A Doença em Notícia”