A relevância da televisão na divulgação da saúde e o aumento da cobertura informativa dessa temática por aquele meio são factores reconhecidos por vários autores a nível internacional. No entanto, podemos confirmar um conhecimento diminuto das características dessa cobertura no nosso pais, o que coloca na linha da frente a necessidade de investigar como a temática é retratada nos noticiários televisivos.
Nesse sentido, o interesse pela área da saúde e essa omissão no panorama da investigação mediática em Portugal conduziram ao início da investigação de doutoramento intitulada “A Saúde nos Ecrãs Informativos da Televisão Portuguesa”, integrada no projeto “A Doença em Notícia”, sob orientação de Felisbela Lopes, e financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Durante mais de dois anos a recolha das peças televisivas dos principais blocos informativos dos canais RTP1, SIC, TVI, RTP Informação, SIC Notícias e TVI24 permitirá fazer uma caracterização da informação sobre saúde a vários níveis. Essencialmente, ao olhar as peças sobre saúde queremos saber sobre o que se fala, qual o género noticioso mais utilizado, se é focada alguma doença, como é sonorizada cada peça, em que momento do noticiário é colocada, que duração tem ou a que local geográfico se reporta, entre outros aspetos.
Não menos importantes são as vozes utilizadas pelos jornalistas para falar sobre saúde. Se as fontes de informação são imprescindíveis ao jornalismo e seu exercício, reconhecemos, à semelhança de vários investigadores, que a particularidade da temática da saúde, pelo seu entendimento mais complexo, lhes confere um grau de inerência ainda mais elevado. O jornalista terá necessidade de uma “tradução” desta linguagem que lhe permita decifrar a linguagem ao leitor, telespectador ou ouvinte. Além disso, é através destas vozes que se reporta a saúde, pelo que a sua caracterização, também prevista no decorrer da investigação, trará algumas pistas sobre o jornalismo de saúde que se faz em Portugal.
Contudo, a consciência de que uma análise de conteúdos só por si não será suficiente para apurar a especificidades do jornalismo televisivo de saúde leva-nos a conduzir entrevistas com os jornalistas que assinam as peças televisivas sobre a temática, buscando aí razões para a caracterização apurada na visualização dessa informação. Também do lado das fontes de informação queremos, através do mesmo método de investigação, perceber quais as estratégias que estão por detrás da visibilidade de certas vozes e invisibilidade de outras.
Em resultados preliminares conseguimos perceber que o jornalismo televisivo apresenta algumas particularidades que queremos validar com o avançar da investigação, com o propósito último de contribuir para uma caracterização mais completa do jornalismo de saúde em Portugal e para a construção de um novo paradigma do jornalismo televisivo dessa mesma matéria.
Luciana Fernandes – membro da equipa do projeto “A Doença em Notícia”; doutoranda de Ciências da Comunicação – Universidade do Minho
* Este artigo insere-se no projeto de Doutoramento intitulado “A saúde nos ecrãs informativos da televisão portuguesa” (SFRH/BD/89566/2012), executado com bolsa de investigação no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) – Programa Operacional Potencial Humano (POPH) – Tipologia 4.1 – Formação Avançada, comparticipado pelo Fundo Social Europeu (FSE) e por fundos nacionais do Ministério da Educação e Ciência (MEC), através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).