«Comunicação, cidadania e aceitabilidade pública na vacinação de rotina»

Jean-Yves Durand e Manuela Ivone Cunha - Investigadores do CRIA/UMinho

O princípio da vacinação universal tem vindo a ser destabilizado por mudanças na relação com a imunização. Apesar de perceções comuns tenderem a associar a não vacinação a localizações longínquas, a uma racionalidade científica incipiente, ou a anacronismos residuais, têm-se registado fenómenos de declínio vacinal que contrariam este quadro de entendimento. Pelo contrário, participam de formas emergentes de cidadania assertiva que incluem, entre os mais variados âmbitos, o da saúde e das instituições biomédicas. Fenómenos contemporâneos de desconfiança ou de dissensão — enquanto objeção, resistência ativa ou hesitação ponderada – em relação à vacinação de rotina têm revelado uma agencialidade mais autónoma e afirmativa face a variadas tutelas e esquemas clássicos de comunicação. Encontrando-se a vacinação no coração das relações de poder e autoridade entre o Estado, a ciência e os cidadãos, esta forma de dissensão tem estado a construir-se na simetria de certas formas de aceitação e consenso. Tendo por base investigação etnográfica conduzida em diferentes contextos portugueses, num pano de fundo comparativo com outros países europeus, propomos examinar as perceções, sentidos e experiências na base da aceitabilidade social das vacinas, bem como a “biocomunicabilidade” a elas associadas.

Nota:

Manuela Ivone Cunha é doutorada em antropologia, agregada em sociologia. Ensina na Universidade do Minho e é membro do CRIA-UM. A sua investigação tem-se centrado em economias informais e na estrutura comparada dos mercados de drogas, em prisões e instituições totais. Trabalhou várias articulações entre criminalidade, género e etnicidade, a última das quais incide na criminalização diferenciada dos cortes genitais femininos. Recentemente concluiu um projeto sobre vacinação, cidadania e política do corpo. Além de ter coordenado várias publicações, é autora de Entre o Bairro e a Prisão: Tráfico e Trajectos, (2002, Prémio Sedas Nunes Para as Ciências Sociais) e Malhas que a reclusão tece. Questões de identidade numa prisão feminina (1994). É autora de várias publicações nacionais e internacionais e integrou várias comissões científicas e editoriais internacionais.

Jean-Yves Durand (MA em literatura comparada / teoria da tradução, State University of New York; doutorado em antropologia, Aix-en-Provence), docente na Universidade do Minho, é director do Museu da Terra de Miranda (Direcção Regional de Cultura do Norte). Coordenou de 2007 a 2012 a linha Saberes, Poderes e Mediações do CRIA e é membro da redacção das revistas EtnográficaCadernos de Arte e Antropologia e Ethnologie Française. Observa objectos, técnicas, práticas, “tradições” e “saberes” – festas, artesanato, etnobotânica, técnicas de mobilidade (rotundas, GPS), vacinação, entre outros – que remetem para registos díspares da vida social mas cujas dinâmicas comuns são reveladoras da instauração de novas estruturas de poder e das relações entre políticas públicas e autonomia individual. As suas publicações incluem três livros que dirigiu: Vila Verde: uma etnografia no presente (2004), Os “Lenços de Namorados”. Frentes e versos de um produto artesanal no tempo da sua certificação (2006) e (com Manuela Ivone Cunha) Razões de saúdePoder e administração do corpo: vacinas, alimentos, medicamentos (2011).

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