Mais informação pode ser melhor saúde

Autor: Nuno Sousa, Diretor do Curso de Medicina da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho e consultor do projeto “A Doença em Notícia”

Pediram-me para partilhar a minha visão – de médico, académico e investigador em saúde – sobre o modo como o tema ‘saúde’ é tratado nos meios de comunicação social nacionais. Ingénuo, aceitei!

É sabido que a relação entre os profissionais de saúde e os jornalistas nem sempre é pacífica, na medida em que estas “tribos” têm culturas e prioridades diferentes. Mais, usam uma linguagem própria, nem sempre fácil de descodificar. Importa, contudo, entender que os atores destes dois campos estão condenados a trabalhar em conjunto, porque ambos desempenham um papel crítico numa missão comum: a de disseminar a informação para promoção da saúde de todos. E é aqui que gostaria de me deter por momentos para enumerar um conjunto de quesitos necessários (ainda que não necessariamente suficientes) para assegurar a transmissão de uma mensagem perceptível e correta que garanta a qualidade do serviço público de informar.

O primeiro diz respeito à qualidade das fontes, que se exigem diversas, plurais e competentes (quer nas componentes científico-técnicas, quer nas comunicativas). Ora, assistimos amiúde, particularmente no jornalismo nacional, ao recurso de fontes de informação em número reduzido, frequentemente repetidas e, inúmeras vezes, incompetentes.

O segundo quesito é o do rigor. Uma mensagem para ser eficiente e eficaz tem em conta o público a que se destina, mas sem perder a precisão de linguagem. Citando Albert Einstein: “make things as simple as possible, but not simpler”. E aqui temos um obstáculo à qualidade do processo informativo português em saúde: uns mantêm-se refugiados na sua tribologia, enquanto outros, incautos, tanto tentam descodificar que perdem o rigor. Pior, na lógica de “comentadores residentes” frequentemente totalmente ignorantes no tópico, opinam com base na consulta rápida das suas fontes wikipedianas e logo se transformam em especialistas.

O terceiro quesito é a profundidade da análise, que permita não só a transmissão da informação, mas também analisar a mensagem sob diferentes perspectivas, a fim de se perceber a complexidade daquilo de que se fala. E o que vemos? Uma abordagem demasiado superficial, ditada pela ignorância dos transmissores, pela assunção provinciana de que todos os recetores são igualmente ignorantes e pela ditadura do “tempo de antena”.

Perante este cenário o que fazer? Diria, nesta abordagem sucinta, que importa quebrar as barreiras das “tribos”, fazendo com que estas aprendam a comunicar entre si. Para isso, é necessário trabalhar em conjunto para saberem onde estão as fontes adequadas, para não pactuarem com a incompetência e para desmascarem a ignorância. Só assim se poderá melhorar a qualidade da sua missão comum: informar e educar para a saúde! E acrescentaria: estimulando em cada um o desejo de saber mais, porque um indivíduo mais informado, é um indivíduo mais culto… e já agora com mais e melhor Saúde.

One thought on “Mais informação pode ser melhor saúde

  1. Caro Nuno Sousa, gostaria de relatar brevemente a boa experiência que eu, professora das biomédicas estou tendo com acadêmicos e professores de jornalismo. Sou professora de Imunologia na Universidade de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil, e estou com dois projetos de divulgação científica. Metade de nossa equipe é formada por acadêmicos de Enfermagem e a outra de Jornalismo. Nesses projetos, estamos divulgando os componentes do sistema imune presentes no leite materno, tema extremamente importante para profissionais de saúde, mas de grande complexidade para o público leigo. Entretanto, a parceria com o jornalismo está nos auxiliando e muito em transformar nossos textos rígidos em comunicativos. Eu, que imaginei conhecer muito dos recursos de tecnologias de comunicação e achava que me expressava de forma clara, tenho aprendido muito com minhas colegas. Hoje, considero todas grandes colaboradoras e imprescindíveis. Sem a equipe de jornalistas, nossos blog e podcast (ImunoCast) não teriam a qualidade científica e de comunicação que hoje têm. Espero que nos visite e dê sua sugestão para melhorarmos sempre em nossa comunicação. (http://imunocastufu.blogspot.com.br/)

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