Quando a notícia da saúde aponta para a economia

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Títulos do Expresso, Público e Jornal de Notícias – 2012

De acordo com os dados apurados pelo “A Doença em Notícia”, uma das componentes essenciais da mediatização da saúde diz respeito à economia, que se traduz ao nível da tematização de duas grandes áreas: as Políticas (decisões; inaugurações, criação de serviços, instalações, centros de investigação; situação de classes; (re) organização, gestão, fecho, disfuncionalidade de serviços; ações de cidadania positivas e protestos) e os Negócios e Economia da saúde. De 2008 a 2012 verifica-se uma tendência de crescimento do volume de artigos publicados (pelo Jornal de Notícias, Público e Expresso, os órgãos que constituem a nossa amostra) em ambos os campos: de 38% para 43% nas Políticas, e de 5% para 12% nos Negócios e Economia da saúde. Apesar de serem temáticas que, por natureza, se cruzam, são tratadas como independentes na medida em que, apesar de em diversas circunstâncias os assuntos dizerem respeito a questões financeiras, envolvem, na sua génese, decisões políticas, o que faz com que, ao nível da nossa investigação, sejam considerados assuntos de política (por exemplo, uma subida das taxas moderadoras nos hospitais, um assunto que aparentemente seria classificado como Negócios e Economia da saúde, integra a temática das Políticas: decisões, já que decorre precisamente de uma deliberação política).

Como se pode perceber a partir dos dados apontados, no caso dos Negócios e Economia da saúde, o crescimento da noticiabilidade é acentuado de 2008 a 2012. Com base na nossa investigação, não temos elementos para crer que estejamos perante uma alteração à forma como a saúde/doença é noticiada pelos órgãos de comunicação portugueses (práticas jornalísticas), mas trata-se antes de uma explicação contextual, associada ao cenário agravado de crise económica no país.

Essencialmente, neste último ano, as páginas dos jornais analisados preencheram-se com questões ligadas à dívida do Estado à indústria farmacêutica ou ao desempenho financeiro dos hospitais portugueses. Já no que toca especificamente às doenças associadas aos Negócios e Economia da saúde, não há uma diferença substancial relativamente aos resultados globais: quando se considera os 5 anos em estudo (2008 a 2012), surge o cancro como a doença mais citada, quando se fala de Negócios e Economia da saúde (19%), seguida da SIDA (12%) e da paramiloidose (8%). Quando nos centramos apenas no último ano, já é possível identificar uma inversão: destaca-se como doença mais mediatizada a paramiloidose (30%), seguida do cancro (20%). Está aqui em jogo o debate sobre a comparticipação de medicamentos, um assunto que, sendo por natureza sensível, assume muito maior relevância num contexto de dificuldades económicas por parte dos cidadãos e das instituições.

Um aspeto a reter diz respeito ao volume de artigos relativos a doenças que se pode encontrar, quando se fala de Negócios e Economia da saúde: se, em termos gerais, já se podia dizer que a doença não costuma ser notícia (33% do total), no caso dos Negócios e Economia da saúde essa tendência acentua-se, já que apenas 9% dos artigos se referem a doenças.

Luciana Fernandes e Sandra Marinho – Membros do Projeto “A Doença em Notícia”

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