Os media ocupam um papel importante na sua relação com o público, sendo que o jornalismo de saúde e de ciência produz um “quadro de expetativas” (Nelkin, 1995) que dá sentido a algumas questões científicas que de outro modo não seriam abordadas. Ao informar, explicar, e enquadrar temas de saúde, os jornalistas podem ajudar o cidadão no processo de tomada de decisões sobre a sua própria saúde. A falta de informação ou a mediatização de informação incorreta e desequilibrada pode levar o público a formar expetativas irreais, exigindo dos médicos cuidados de saúde de que não precise ou que sejam prejudiciais (Schwitzer, 2008).
Há uma crescente importância dos temas de saúde nos jornais portugueses, que acompanha o interesse do público por estas questões. Perante a complexidade dos assuntos de saúde, é expetável que os jornalistas que se dedicam a essa área apostem na especialização para poderem “traduzir” a informação que lhes é transmitida pelos especialistas, sejam eles médicos ou cientistas. Esta preocupação com a especialização não é recente. Herbert Gans, por exemplo, referia há quase uma década que o “jornalismo tem estado sob pressão para usar mais especialistas” (2004: 143). No entanto, alertava para o facto de os jornalistas especializados significarem custos acrescidos para os órgãos de comunicação social. De facto, estes jornalistas produzem menos ‘estórias’ do que os generalistas e correm ainda o risco de se tornarem demasiado técnicos para o público em geral. Um outro risco prende-se com o facto de que o tema em que se especializam, dedicando por vezes décadas da sua vida profissional, simplesmente perca o interesse.
A especialização do jornalismo é acompanhada pela especialização das próprias fontes, que se tornam cada vez mais organizadas e pró-ativas na sua relação com os jornalistas. A forma como falam com os media e ajudam o jornalista a pôr a investigação em perspetiva, explicando conceitos complexos de forma simplificada, pode ser um fator decisivo na escolha das fontes de informação.
Importa referir que o jornalismo de saúde não é diferente do restante jornalismo, pelo que a relação que se estabelece entre jornalistas e fontes de informação atravessa, também ela, momentos de tensão e de afastamento. O facto de haver, nas redações dos jornais portugueses, poucos jornalistas especializados em saúde, pode fazer com que os jornalistas se tornem um alvo mais fácil de manipular e de “alimentar” com informação pouco precisa ou enviesada, sendo, neste caso, mediadores da informação.
Rogério Santos entende que existe uma ligação especial entre jornalistas especializados e as suas fontes, que pode resultar em dependência: “Os jornalistas especialistas ligam-se às fontes de informação especialistas, tendendo a estabelecer com elas uma relação próxima, o que torna aqueles bastante dependentes” (Santos, 2006: 48). De facto, os jornalistas que se dedicam à saúde nas redações estabelecem com as suas fontes de informação uma relação de proximidade e confiança. Acabam por recorrer a um grupo restrito de fontes em quem podem confiar para lhes explicar informação complexa ou mais específica. Apesar das vantagens nestas relações de proximidade, os jornalistas podem correr o risco de dependência das fontes de informação, pela especificidade do tema do qual se ocupam.
Os jornalistas que trabalham a saúde nas redações portuguesas são, na sua maioria, pouco especializados. Em muitos casos, recebem informação previamente preparada pelas fontes organizadas, publicando-a assim mesmo e constituindo-se como mediadores entre as fontes e o público. No futuro, espera-se que a especialização dos jornalistas conduza a uma maior autonomia nas matérias abordadas pelos media.
Rita Araújo - membro da equipa do projeto “A Doença em Notícia”; doutoranda de Ciências da Comunicação – Universidade do Minho