Editorial

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A saúde declina-se frequentemente em números: de um défice crónico resultante de um orçamento sempre à míngua; de uma gestão à procura de eficiência que facilmente desemboca em queixas de vários atores (embora sejam os pacientes que mais sofrem com estes constrangimentos); de negócios onde o sector privado procura o lucro em permanência… Apreciadores de dados quantitativos, os jornalistas valorizam bastante esta vertente do campo da saúde que, nos últimos tempos, tem conquistado uma visibilidade acrescida, resultante também de assessorias que sabem que a economia da saúde, em parte, se desenvolve pelos efeitos positivos que certas notícias provocam no espaço público.

Com um Serviço Nacional de Saúde em crise, crescem por todo o lado os motivos de noticiabilidade em torno da Economia e dos Negócios da saúde. O sector público vê-se confrontado com a obrigação de recolocar as contas em ordem, atravessando, por isso, dificuldades diversas; o sector privado vê aqui uma oportunidade de negócio, procurando, por vários meios, impor os seus produtos que, no espaço público, se traduzem em marcas que procuram permanentemente a notoriedade.

Ora, mais do que estratégias de marketing ou de publicidade, o campo jornalístico assume aqui grande atratividade. Se se conseguir que a notícia reporte uma situação positiva, conquista-se um espaço para o qual os cidadãos olham como impermeável a manipulações, parcialidades, enviesamentos… Construído em registo jornalístico, determinado facto constitui-se como uma referência a levar em conta, embora saibamos que aquilo que se torna notícia resulta, por vezes, de hábeis estratégias de assessorias de imprensa que procuram a todo o custo colocar no espaço público mediático enquadramentos positivos daquilo que se reporta. Ora, numa altura em que as fontes estão cada vez mais profissionalizadas, aqui está um desafio para os jornalistas: saber distinguir o que pode ser notícia e aquilo que não passa de uma bem comunicação estratégica com fins publicitários. Nem sempre é fácil perceber a diferença.

Por outro lado, num contexto mediático em que os jornalistas valorizam enfoques negativos, quem gere uma instituição pública ou uma empresa privada vê-se permanentemente confrontado com perguntas que procuram consequências nefastas de decisões que, lidas pelo contexto organizacional, se tornam inevitáveis. Aí está também um desafio para estas fontes de informação: o de serem capazes de explicar medidas que são cada vez mais incompreensíveis para a opinião pública (mediatizada).

Felisbela Lopes, Investigadora Responsável – Projeto “A Doença em Notícia”

 

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