As imprecisões do jornalismo de saúde ao longo de quatro anos*

O jornalismo em saúde desenvolvido pelos jornais portugueses está entregue a jornalistas que seguem regularmente este campo. Essa continuidade proporciona um saber mais alargado das temáticas a tratar e um conhecimento mais próximo das fontes de informação. Concentrando-nos na autoria dos artigos publicados na imprensa portuguesa neste domínio, encontramos profissionais que fazem jornalismo há já alguns anos, o que lhes confere experiência suficiente para desenvolverem um jornalismo de qualidade. No entanto, isso não os torna imunes a alguns erros. Enunciamos aqui algumas imprecisões que mais se repetem nos artigos publicados ao longo do quadriénio 2008-2011:

Títulos ambíguos

O título de um artigo de jornal não tem de ser forçosamente descritivo. É verdade que títulos dessa natureza colocam o leitor no centro do assunto que se destaca, o que é aconselhável quando a matéria que se tem em mãos é a saúde. No entanto, por vezes, o jornalista opta por títulos mais exclamativos ou mais sugestivos, que podem afastar os leitores da essência daquilo que importa reter. Se em assuntos positivos poder-se-á aceitar facilmente um título de natureza mais subjetiva, em matérias mais delicadas essa opção poderá não ser a mais conveniente.

Identificação incompleta de fontes

A identificação das fontes de informação tem de ser feita da forma mais completa possível. Para o leitor tomar uma informação como credível, o jornalista deve dar elementos que ajudem a percepcionar aquela fonte como a mais capaz para proferir determinadas afirmações; nome, profissão, ligação profissional a determinada estrutura, lugar a partir do qual se fala.

Exemplos: Paulo Costa, diretor do serviço de cirurgia I do Hospital de Santa Maria.

Ora, algumas vezes, a identificação das fontes faz-se de forma bastante genérica. Nada se diz sobre a ligação a uma estrutura profissional ou o lugar de origem daquele que fala ou tão pouco sobre a posição que determinada fonte ocupa numa organização.

Lugar do acontecimento ausente

Um acontecimento desenrola-se sempre em determinado lugar, que convém conhecer. Uma fonte de informação, quando presta informações aos jornalistas, fá-lo a partir de um dado local ou inserida numa iniciativa. Ora, por vezes, esses dados são omitidos do texto noticioso. Frequentemente uma fonte presta declarações, sem se perceber em que contexto o fez.

Artigos pouco informativos

O jornalismo não terá uma vocação pedagógica. O seu propósito é informar e, fazendo isso com rigor, estará, consequentemente, a promover uma literacia para a saúde junto do seu público. No entanto, nem sempre essa exigência informativa de qualidade é cumprida de forma plena. Por vezes, é preciso explicar do que se fala.

O exemplo seguinte retrata esta imprecisão: “Mais de 1500 casos de linfoma em cada ano”, JN de 13 Setembro 2010 (Não basta anunciar que o número de linfomas está a aumentar. É também necessário explicar o que é um linfoma ou o que é o sistema linfático referido no artigo em causa)

Mais do que fazer o retrato da situação, seria igualmente pertinente explicar as razões por que essa situação acontece (por exemplo, explicitar formas de transmissão de determinada doença) e avançar alguns mecanismos de prevenção. Outras vezes seria aconselhável complementar a notícia com alguma informação sobre aquilo que se noticia como a ignorância das pessoas acerca de certa situação.

* Este é um excerto adaptado do artigo Lopes, F., Ruão, T., Marinho, S., Araújo, R. (2012). “A saúde em notícia entre 2008 e 2010: Retratos do que a imprensa portuguesa mostrou”. Comunicação e Sociedade. Número especial:
Mediatização jornalística no campo da saúde. Ed. Húmus/Universidade do Minho.

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