Editorial

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Pelo desenvolvimento de estudos em comunicação da saúde

Nos últimos tempos, o campo da saúde tem sido cada vez mais mediatizado. Por vários motivos: há maior disponibilidade dos atores da saúde para responder às solicitações dos jornalistas com vista a promover o respetivo trabalho e maior abertura dos jornalistas aos temas de saúde; há um reforço das atividades de marketing e comunicação estratégica das instituições ligadas à saúde que, cada vez mais, se consciencializam que têm de operar numa lógica de mercado; há um maior interesse do público por estas questões. No entanto, a academia portuguesa tarda em desenvolver estudos neste campo. Nestes anos, somam-se escassos trabalhos desenvolvidos em contexto universitário centrados na comunicação da saúde. Começam agora a aparecer novos e promissores projetos. Na Universidade do Minho estão atualmente em curso três teses de doutoramento que este número apresenta.

Ao nível dos estudos académicos focados na comunicação da saúde, nomeadamente no jornalismo da saúde, encontramos as principais referências nos domínios anglo-saxónicos (McAllister, 1992; Kreps & Bonaguro & Query, 1998; Miller & Williams, 1998; Tanner, 2004; Albæk, 2011), embora já comecem a aparecer em terreno europeu algumas investigações importantes: Pailliart & Strappazzon, 2007; Romeyer, 2007; Terrón Blanco, 2011. Em Portugal, uma equipa do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade desenvolve, desde 2008, uma investigação que visa perceber de que forma a imprensa portuguesa mediatiza a saúde, prestando uma atenção particular às fontes de informação aí citadas. Neste âmbito, escrevemos já vários papers sobre ângulos diferenciados: mediatização da gripe A e da E.coli, análise dos doentes e cidadãos enquanto fontes de informação; análise das fontes oficiais, nomeadamente das fontes políticas; análise das fontes especializadas, particularmente dos médicos e das estratégias construídas por laboratórios médicos, etc.

Apesar de adotar um conjunto de procedimentos comuns ao campo do jornalismo, na verdade o jornalismo da saúde tem as suas especificidades, assinaladas por quem o faz e por quem o estuda. Mais do que informar em primeiro lugar, é imprescindível fazê-lo com rigorOs jornalistas podem não necessitar de competências específicas para mediatizar a saúde, mas precisam de saber avaliar os assuntos que têm em mãos de forma correta. Falamos aqui de um campo que se preenche com temas específicos e com fontes especializadas (médicos, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos, nutricionistas, investigadores em ciências médicas…), cujo discurso nem sempre é fácil de descodificar. Há diversos trabalhos que salientam a importância das competências técnicas destas fontes. O académico Rogério Santos, que tem uma tese de doutoramento centrada nas fontes de informação, defende que esses interlocutores possuem um conhecimento específico de uma área do saber e uma relação com os jornalistas que assenta em base científica. Que nem sempre é fácil de descodificar. Os estudos feitos em contexto universitário são aqui uma preciosa alavanca para ajudar uns e outros a comunicar melhor.

Felisbela Lopes, Investigadora Responsável – Projeto “A Doença em Notícia”

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