Editorial

Outros caminhos para percorrer…

Ao longo de quatro anos, uma equipa de investigação da Universidade do Minho dedicou-se a analisar de a comunicação e o jornalismo de saúde que se desenvolvem em Portugal, um trabalho enquadrado no projeto “Doença em Notícia” que contou com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Essa etapa chega agora ao fim, mas abrem-se outras.

O projeto de investigação que agora se fecha não mostra tudo o que é o jornalismo da saúde em Portugal. Tão pouco explica em pormenor a complexidade da comunicação da saúde promovida por organizadas fontes de informação. No entanto, assumiu-se, desde o início, como um espaço privilegiado de observação do trabalho dos jornalistas que mediatizam a saúde e daqueles que todos os dias prestam informação especializada sobre este campo. Ao longo de quatro anos, analisámos em permanência o trabalho de uns e de outros, podendo afirmar que as fontes que habitualmente são notícia se revelam cada vez mais hábeis no diálogo com os jornalistas e que estes procuram dotar o seu trabalho de maior qualidade. Uns e outros têm ainda um longo caminho a percorrer até atingirem um patamar ideal. O mesmo se passa com a investigação académica desenvolvida neste campo.

De 2009 a 2013, um grupo de investigadoras do Centro de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho procurou conhecer ‘quem falava do quê’ no Jornal de Notícias, no Público e no Expresso quando o campo em destaque era a saúde. Todos os dias, olhámos com toda a atenção para os artigos jornalísticos publicados nos cadernos principais de cada título. De fora do nosso ângulo de visão ficaram os suplementos e as revistas desses mesmos jornais e outros títulos que também teriam tido todo o interesse em incluir nessa amostra. Não o fizemos por condicionalismos de tempo e de recursos, mas esse alargamento a toda a imprensa generalista (diária e semanal) será algo fundamental para conhecer com mais rigor o que aí se produz. Também seria bom alargar o estudo a outros media: rádio, televisão e internet. Seria interessante perceber pontos de contato e especificidade no jornalismo de saúde que se desenvolve em cada plataforma.

Procuramos também, com este projeto, perceber as estratégias de atuação de algumas fontes de informação. As fontes oficiais continuam muito atentas ao processo produtivo noticioso, mas as fontes especializadas  também já não querem ficar do lado de fora da atenção jornalística. Quem permanece sempre nas margens da atenção da imprensa que fala da saúde é o cidadão comum, a maior parte das vezes ouvido para servir de caso ilustrativo da matéria que se trata. Por seu lado, a assessoria de imprensa tem estado mais atenta, embora nem sempre se revele muito especializada em técnicas apuradas neste domínio. No entanto, reconhecemos que é preciso mais investigação para perceber melhor como é que todas estas fontes se vão movimentando num campo que começam agora a explorar com a ajuda de profissionais da comunicação.

Os textos em si também exigiriam uma análise mais aprofundada. Seria preciso investigar mais a arquitetura escolhida para textos que visam informar, mas que, grande parte das vezes, se constituem como meios de conhecimento acerca das matérias em destaque. Nessa análise de discurso seria igualmente importante determo-nos de modo particular naquilo que é escolhido como citação por parte de fontes que são colocadas a falar a partir de uma categorização que importaria também conhecer.

Caminhos que urge percorrer, caminhos que ora se revelam lineares, ora se mostram demasiado intricados, com contornos que valeria a pena seguir com a minúcia de um outro tempo e outro plano de trabalho. São esses caminhos que de ora em diante vamos procurar fazer.

Felisbela Lopes, Investigadora Responsável – Projeto “A Doença em Notícia”

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